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Depois de dois anos e algumas pessoas, depois de tanto tempo e outras coisas, ele continua sendo a minha grande mágoa amorosa. Combino de não reagir quando ouvir o nome dele, combino de me manter impassível quando monto quebra-cabeças da época, combino de não adentrar a privacidade pública dele para não me expor demais, mas de nada adianta. Ainda me sinto comovido. Ainda me sinto deixando alguma coisa mal resolvida lá atrás. Ainda sinto como se não pudesse explicar essa história nem que eu destrinche as semanas, as horas do dia, as migalhas de todos os diálogos. Ainda me sinto magoado.
Você, querido leitor, provavelmente sente ou já sentiu o mesmo. Todos nós temos uma grande mágoa que persiste em se instalar num canto vago do peito, escondida dos nossos olhares furtivos do dia a dia. Aquele canto que acumula poeira apesar da faxina semanal. Aquele canto onde baratas e outros insetos pequeninos conseguem se manter seguros dos nossos pisões e inseticidas. Aquele canto escuro que deposita teias invisíveis a olho nu na sala. É gente que mexe com a gente.
Essa mágoa é diferente de todas as outras que você já viveu. Não é a mágoa da rejeição direta de alguma paixonite passageira nem a mágoa do fim inesperado de um casamento. Não é a mágoa da traição ou da falta de zelo nos dias juntos. É uma mágoa que não vem de uma razão única, algo que machuca mesmo que você diga que não sente mais nada. É a mágoa do reencontro depois de você já ter enterrado tudo, é a mágoa do desapontamento com a notícia de que ele não vai voltar. É a mágoa que fica sabendo com quem ele dormiu enquanto fugia de você, é a mágoa de se sentir especial e perceber aos poucos que você não foi nada disso. É a mágoa que não consegue odiar, só se ressente. Só se espreme pra caber naquele cantinho.
Você morre de vontade de botar um ponto final nisso, mas o labirinto é tão grande que você já desistiu de sair dele. Convive com essas besteiras todas achando que tá tudo bem, mas sabe que hora ou outra, aquele cantinho mal iluminado vai voltar a assombrar você. Sabe que não esqueceu porque todas as vezes em que fala dele, sua voz some. Você vidra os olhos pra longe dos olhos do seu interlocutor. Você viaja para uma época distante e termina o café limpando os lábios e jurando que nada aconteceu. Mas o gosto fica, não fica?
Se te perguntam o que houve, você definha aos poucos enquanto conta a história – sem início, meio e fim definidos, como é o meu caso. Você até sente vontade de rir quando termina, porque ela não explica o tanto que você sente, o tanto que você se ressente. Não explica a mágoa, o choro, o impacto da voz do outro, as notícias de longe e tudo mais. Explica nada, nadinha. Pelo contrário, faz com que você pareça dramático demais. Mas não é drama, querido leitor. É mágoa. Dessas que a gente jura de pés juntos que não vê a hora de passar.
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