A gente podia ter dado certo


[Você pode ler este texto ao som de White Iverson]

A gente podia ter dado certo no dia em que você terminou comigo. Era só ter esperado o pudim de leite condensado com cobertura de laranja sair da geladeira ou o incenso de canela terminar de queimar. Era só ter dito que não tava tudo bem antes, que a gente conseguia controlar as coisas no começo. Era papo de sobremesa e vinho tinto, mas você não ficou até terminar a garrafa.

A gente podia ter dado certo no caminho pra casa de Petrópolis. Era só ter falado que não curtia aquela música e que ela te lembrava o tal ex que não parava de mandar e-mails perguntando se você tava feliz comigo. Era só ter cruzado pra direita e me contado como você tava balançado pela aparente resolução de todos os problemas que vocês tiveram, mas cê não virou. Era papo de estrada e chuva na pista, mas você preferiu levar um fantasma pra nossa cama sem me avisar.

A gente podia ter dado certo no Natal do ano passado. Era só ter trocado os presentes de lugar e encaixado a estrela no topo da árvore. Não precisava dizer que chegaria tarde porque a sua chefe pediu um relatório no recesso nem dito que o trânsito da Faria Lima estava caótico porque não existe trânsito na Faria Lima no vinte e quatro de dezembro que te segure desse jeito. Era papo de sinceridade e fim de ano, mas você deixou pra depois como sempre fez comigo.

A gente podia ter dado certo no meu aniversário de trinta e dois anos. Era só ter desistido de me comprar um bolo e ter mandado flores pro endereço certo. Ele deve ter adorado o amor duplicado, estampado na sua cara no momento em que percebeu o erro. Era só ter me dado os parabéns e escrito um carta de reconciliação com direito aos votos que nunca tive. Enquanto me desejavam um feliz ciclo novo, você tava preso no antigo. Era papo de que não dava mais e a vida segue, mas você não disse uma palavra.

A gente podia ter dado certo e ponto final. Mas você não queria. Não queria estar comigo e a maioria das pessoas deveria enxergar isso antes de causar um estrago irreparável na vida dos outros. Mesmo que fosse tarde, você sempre teve a opção de pausar a gente e tentar consertar. Se não quisesse, tudo bem, bola pra frente. O que você não tinha era o direito de me deixar aqui esperando, caminhando na primeira marcha, subindo ladeira com a maior dificuldade do mundo pra te acompanhar. Você não podia ter me tratado como uma das coisas que você sempre posterga pra resolver depois. Você pode até continuar vivendo normalmente com o meu mal funcionamento, mas eu estragava cada vez mais com o tempo. 

A gente não podia ter dado certo. Nunca pôde. Demorei pra entender que não dá pra consertar alguém. Nunca foi a gente que esteve quebrado. Era você. Era papo de eu ir embora e te deixar sair da minha vida. Eu vou. Eu deixo. 



Você sabia que eu escrevi um livro novo? Ele se chama “O que eu tô fazendo da minha vida?” e fala sobre como a gente precisa enfrentar os nossos demônios interiores para tentar curar os problemas que nos impedem de seguir em frente no amor, na família, na carreira e em qualquer outro lugar de crise. Ele também fala um pouco sobre o período de depressão e das crises de ansiedade que tive, dos traumas e dos aprendizados que a terapia me trouxe e tudo mais. Se você quiser saber mais sobre ele, é só clicar aqui para ler mais e comprá-lo com desconto: O que eu tô fazendo da minha vida?



-

Você também pode gostar desse assunto. Assista ao vídeo abaixo:

Comentários