Um suspiro.
Não sei do quê. Sei que foi comprido. E alto. E cheio de alguma coisa que não é ar.
Juro que tinha ambulância preenchendo a noite. Um clichê, quando paramos para prestar atenção na cidade. Mas tinha uma ambulância. Alguns cachorros latindo. Carros passando na avenida e aquela moto se esguelando como faz todo final de semana. Até sirene de polícia. Um grilo! – ou dois – pude ouvir quando cortinei os olhos. E quando não tive mais com o que distrair a visão, nada além de uma black paisagem, percebi que era a saudade entrando pelo meu nariz. Eu inspirava saudade.
Um dia, me lembro de doer dele. Ele longe. Ele longe até quando voltava pra cidade. Ele escorregando de mim o tempo todo. A saudade que dá mesmo enquanto ele me encarcerava com palavras. Voláteis, como nasceram para ser. Porém não como eu lido com elas. Engarrafar os dias de uma vida e qualquer pensamento é a desculpa com mais sentido para continuar aqui.
Sentir saudade só do que não é meu.
Saudade que deixa o coração inchado e meio dolorido até. Saudade é cólica cardíaca. Você acha que expirar o que é tóxico dela, depois de consentir sua entrada, vai resolver tudo e você pode dormir normalmente à uma da manhã. Não. Você enruga a cama, suando saudade. Tá tudo confessado no lençol. Saudadumidade. Entregue explicitamente para só eu mesma saber. E guardar. A saudade é minha. Não preciso dividir com ninguém. Preciso lavar esse lençol e voltar pros grilos e as sirenes. Agora algum carro arrombado pede ajuda. E vai partir sem um bilhete, uma mensagem no celular. Mas pode ser só um dono desligado, que não se atenta que portas abertas convidam sempre alguém para entrar.
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