O que faz a gente gostar de alguém não é a força dessa pessoa


Tenho uma amiga que costuma se frustrar com a autoconfiança dos caras com quem sai. Na maioria das vezes, a vaidade deles impede que uma conversa despretensiosa tome algum rumo porque eles acham mais bacana contar vantagens, apresentar currículo, embelezar a percepção de quem eles são em vez de serem pessoas reais. Nada contra essa construção de imagem, inclusive acho normal que a gente tente fazer isso, mas as pessoas no geral não entendem como funciona o lance da identificação, não é?

Ninguém quer se casar com um deus. A ideia de divindade nos distancia da realidade que nós, meros mortais, enfrentamos. Ninguém aguenta se arrumar vinte e quatro horas por dia para que a outra pessoa nunca nos veja com uma cueca furada. Ninguém aguenta conjugar os verbos corretamente o tempo todo. Ninguém aguenta viver de boas impressões durante um relacionamento de verdade. O que a gente aguenta é mostrar a parte contrária a isso.

São histórias de verdade que criam aproximação. Vai me dizer que você não gosta muito mais de um artista quando descobre que o começo de carreira dele foi parecido com o seu ou que ele também atrasou contas porque não tinha grana ou qualquer outra coisa dessas que acontece na sua vida? Vai me dizer que você não se identifica mais com os caras destrambelhados, que acordam cedo pra pagar os boletos do fim do mês e ainda arrumam um tempinho pro cinema no meio da semana? Você gosta, eu gosto, a maioria das pessoas gosta de gente que se parece conosco. Humanidade atrai humanidade. Você não quer ter que passar pelos portais do Olimpo como se fosse Hércules. Você só quer um amorzinho.

O que faz a gente gostar de alguém não é quão forte essa pessoa aparente ser. Não são as plumas e as penas do pavão, mas o que tem de bonito nas histórias cotidianas, e até medíocres, dessa pessoa. Aquele papo do que aconteceu na viagem de doze horas entre uma cidade e outra, o aniversário em que a bisavó perdeu a dentadura em cima do bolo, as paixões que não deram certo porque um deles resolveu ir morar nas Filipinas, sabe? Essas histórias que parecem bobas e não acrescentam títulos ao outro, mas que aquecem o coração.

Gente como a gente: imperfeita, não muito engraçada, que não tem uma vida-perfeita-de-Instagram e tem um dos pezinhos no chão e o outro nas nuvens. Gente digna de sonhar junto e de admirar pelos feitos nobres. Cá entre nós, tenho nada contra as divindades, mas não quero ter que me ajoelhar pra rezar pra alguém num altar. Nada disso. Quero é ir caminhando lado a lado nessa vida terrena, nessa vida mundana em que a gente consegue se identificar com a vida (completamente diferente) do outro.

É a vulnerabilidade que deixa alguém bonito. O ato de tirar a armadura e dizer “olha, tô aqui sem roupa na sua frente e não tá tudo em ótimo estado, mas cada parte do meu corpo tem uma história pra te contar, topa ouvir?”. É aí que a magia acontece.

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