Você junta escovas de dente e ganha de brinde os cabelos no sabonete, a toalha no chão e algus perigosos escorregões no piso molhado do banheiro. Em troca, você dá sua quase fofa mania de simetria, seus travesseiros desconfortáveis (mas lindos) e o cobertor que sua vó tricotou com tanto carinho (mas que te faz espirrar e fungar a noite inteira).
Junta os tênis de corrida, um com talco e outro sem talco. E sempre que for correr agora você terá uma sessão de espirros de 3 minutos, por que você é alérgico a talco. Juntou a hora de dormir. Você cedo, ele tarde. E o despertador. Que toca implacável às 5. SUA hora perfeita pra treinar!
Juntou seu passado com o passado dele. Suas primeiras vezes, seus traumas, suas histórias embaraçosas e suas broncas. Seus tombos e suas vitórias. Juntou o futuro, os planos, os sonhos. Por falar nisso… aquele seu plano de conhecer aquela cidadezinha tranquila na Itália pode ficar pra depois da ida pra Honk Kong e Tokyo?
Juntou a fome de pizza com a dieta low carb. Juntou o sorvete de chocolate com o de taperebá e a mistura ficou bem esquisita. Juntou a sogra, a sobrinha chorona e aquele seu tio que adora fazer perguntas inconvenientes. Juntou churrascos de domingo e futebol com a meditação no parque.
Conviver é isso. Alguém disse que seria fácil?
Mas nada… absolutamente nada é mais gostoso que acordar de madrugada e sentir um corpo quente na cama, olhar pro lado e poder contemplar o amor assim…. em paz. Sabendo que ele estará ali quando você acordar e passará o dia, assim como você, esperando poder voltar pros seus braços.
Nada é melhor que o sofá de casa a dois no fim de um dia cansativo com ou sem massagem no pé. Amar é a cereja do bolo. Conviver é controlar todos os seus instintos pra não jogar o bolo no chão e fazer birra.
É ronco, mau humor de fome. Futebol com os amigos e happy hour com horas de 360 minutos. Vídeo game até de madrugada, cara feia por bobagem e TPM. Conviver é misturar, unir, ceder. E tem coisa mais difícil do que ceder? Beber cerveja na sexta e tequila no sábado. Fechar o domingo tomando suco verde. Juntos.
Sempre juntos. Até quando não estão. Porque saber ser separado e junto ao mesmo tempo é uma das principais características de bons parceiros. Ter tempo pra si e respeitar o tempo do outro. Ainda que as horas dele parecem mais longas que as suas.
Conviver é ficar muda por 24 horas só pra não ser grosseira. Digerir a bronca e não cuspir verdades aumentadas na cara do outro. A gente traz “o que você tem?” e ganha o “nada”. E a mágica é aprender a respeitar o “nada” mesmo sabendo que é tudo. E aprender a separar, de alguma forma que nem você entende, o “nada” que pede abraço do nada que pede distância.
Conviver é isso.
Mágica.
Às vezes um leviosa, às vezes uma macumba mesmo. Conviver é assistir maratona Harry Potter e emendar com aquela série de documentários sobre tubarões e ou sessões de cinema iraniano. Sem dormir. Ou, pelo menos, tentando manter os olhos abertos…
É jazz e rock’n’roll hoje, amanhã eletrônica. É paz e caos misturados ou em dias alternados.
É abraçar causas e utopias. Sonhar junto. Ou pelo menos aprender a guardar todo seu ceticismo na gaveta.
São pés frios no inverno que congelam sua alma quando te tocam debaixo do cobertor. É abrir mão do ar condicionado no verão pra ela não ter uma daquelas crises de rinite que não deixam ninguém dormir.
E dormir grudado mesmo assim.
Conviver é aprender a diferença entre filé mignon, patinho e coxão mole e ser vegetariana. Conviver é abraçar suado depois da corrida, é fechar a porta do banheiro delicadamente sempre que ela insiste em deixar aberta quando vai fazer xixi. Intimidade demais tem limite.
Juntar a falta de dinheiro de um com a vontade de jogar tudo pra cima do outro e achar um meio termo. É economizar para as férias, só pra sair da rotina e voltar cheios de saudades do Netflix. É viajar sozinha com as amigas e trazer presentes. É ir pra um cruzeiro com os pais dele, mesmo você sabendo que vai ficar enjoada a viagem inteira.
Curtir cada segundo juntos, incluindo os mais entediantes. E saber a hora de sair de perto e respirar outros ares pra recalibrar a saudade e a impaciência.
Conhecer cada pequeno defeito, cada grande qualidade. Mas saber, bem lá no fundo, que depois de muito tempo ela ainda será capaz de te surpreender. E se permitir se apaixonar perdidamente pela pessoa que ele se tornou. Com você e por você. Encarar todas as dificuldades juntos e ainda tirar forças pra contar uma piadinha boba só pra roubar um sorriso em meio ao caos, por que ele e só ele é capaz de te fazer ter uma crise de riso no meio da sua crise de choro.
É enlouquecer de raiva e de amor no mesmo dia. É ter medo de perder e vontade de fugir.
Conviver é realmente difícil. Mas vale cada segundo.