É isso que acontece quando você encontra alguém legal depois de um relacionamento tóxico


Quando você finalmente consegue sair daquilo que tanto te machucava, você começa uma nova fase na vida. Há quem diga que a grande jornada se tratava apenas de perceber quão tóxica era aquela pessoa, como ela te fazia mal, como a sua vida tinha estacionado numa coisa nem um pouco boa e como você lutou e demorou pra sair disso. Mas as pessoas não entendem que existe uma outra batalha. E não é uma batalha contra alguém, é uma batalha interna, invisível, que talvez seja ainda mais complicada de se perceber.

Você sai de um relacionamento abusivo e entra numa descrença absurda com as pessoas. Se pergunta o tempo inteiro se existe alguém que vai te respeitar verdadeiramente e entender os traumas que você desenvolveu na última relação. Você começa a duvidar da sua própria capacidade de amar alguém – não porque você não quer, mas porque você não consegue. O sentimento parece adormecido enquanto você brinca pra lá e pra cá com o Tinder, enrola em jantares regados a vinho, paga táxis caros que se deslocam de um extremo ao outro da cidade enquanto se pergunta o porquê de não ter sentido nada.

Você tenta. Eu sei que tenta. Mas aquele momento parece durar mais do que deveria. Rola uma dúvida em torno da sua vontade de sair de casa, conhecer gente nova, desenvolver laços. É um misto de cansaço e de falta de mágica. Falta de interesse e falta de vontade. E os sinais aterrorizantes de que, talvez, você esteja realmente fechado pra balanço – esse clichê que você odeia. As pessoas tentam te dar as mais diferentes receitas. “Uma hora, quando você menos esperar, aparece alguém” ou “você precisa se libertar desse medo de se relacionar de novo” ou “só o tempo vai te ajudar” ou “já tentou terapia?” e não acho que elas estejam erradas. Só acho que você vai descobrir sozinho o tal do melhor caminho.

Te conto por experiência própria: depois que alguém bagunça a casa, demora um bocado pra botar tudo no lugar e abrir a porta da frente de novo. Nós nos acostumamos a sair pela cozinha, a deixar a porta principal trancada, a não trazer ninguém pra dentro enquanto ainda existir o receio de bagunçar tudo de novo. Mesmo quando vem alguém muito legal e você se culpa por não estar dando espaço pra essa pessoa quando, no passado, deu espaço pra quem te machucou.

Os relacionamentos que temos durante a vida vão moldando as nossas próximas experiências. Bons ou ruins, eles são responsáveis pelos traumas, tabus, crenças limitantes e outras travas que desenvolvemos. Também são eles os responsáveis por nos fazer superar essas coisas, quando encontramos alguém incrível e acontece a grande magia do amor. O problema é que coração nenhum consegue se abrir quando está no limbo, esse espaço de reflexão interna depois de uma experiência pesada como um relacionamento tóxico. É o momento de descansar o peito e priorizar outras coisas.

Não devemos nos culpar. Não devemos nos sentir mal por estarmos deixando pessoas incríveis irem embora. Nada disso é pra sempre. E você pode ter certeza de que aquela não será a única pessoa incrível que você vai conhecer. Talvez ela volte quando o momento for oportuno, talvez você se apaixone por outra pessoa quando o seu coração estiver mais leve. Não se coloque numa posição de cobrança emocional por não conseguir corresponder o outro, quando tudo o que você precisa é se curar e seguir uma vida mais leve. É parar um pouco e se permitir desventuras em série que podem realmente dar em nada. É tirar esse peso do “ter que ser” amável, amado e algo a mais. E aí, quando tivermos nos perdoado e tratado da melhor forma possível, talvez nos sintamos confortáveis para destrancar a tal porta da frente para alguém novo entrar. Até lá, a gente aproveita a liberdade de não se pressionar a fazer isso.

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