[Você poder ler este texto ao som de Echoes of Silence]
Depois de me curar, acredito que nunca mais eu vá estar com alguém de novo. Nunca mais é tempo demais, admito. Talvez daqui a algum tempo as coisas melhores. Mas quanto tempo demora até a gente voltar a confiar? Confiar, sim, porque o problema não é me apaixonar por alguém. Não é amar de novo. Não é gostar tanto a ponto de tomar duas doses de borboletas e acordar com azia. O problema é deixar que me toquem.
Fico esperando a retaguarda baixar e perco os moços. Por falta de tempo, falta de dedicação, falta um monte de coisas. Nunca falta vontade. Vou, me apaixono e saio fora. Uns dizem que é autosabotagem, mas eu chamo de cuidado. Você já esteve com alguém que destruiu a sua alma e saiu cantarolando por aí sem ligar pro que te fez? Já se viu no espelho no dia seguinte? A carne é a mesma. Lataria não muda, a não ser pelas olheiras e tiques nervosos. Pela necessidade de cura. Pela pele cansada. Pela cabeça que mais parece um tufão se formando na Patagônia.
Não me declaro por vencida.
Conheço o tal fulano hoje, dou nome pra ele em vinte dias, saio com os melhores amigos, chego a jantar com a mãe, mas sempre arrumo um jeito de mandá-lo embora, sabe? Tem um mecanismo rodando aqui dentro disposto a botar pra escanteio qualquer pessoa com quem eu decida me envolver. É involuntário. E tudo isso por conta dos últimos machucados. Ou melhor, por conta daquele relacionamento com cheiro de enxofre que denunciava muito bem o tipo de boy (lixo) com quem eu estava.
Quando você encontra alguém legal depois de um relacionamento desses, todos os lados da história perdem. Tu perde por estar anestesiada. É exatamente essa a sensação. Como se teu corpo não conseguisse responder aos estímulos positivos de alguém que tá ali tentando te fazer bem. Não é falta de esforço do outro, não é falta de vontade tua. É só uma maneira que o seu corpo encontrou de se defender, de estar alerta, de evitar que a história se repita. Afinal de contas, quando ele chegou aqui, você também nem tinha ideia de que te machucaria tanto.
É a fase do ponto morto. O carro não liga, não importa o tanto de força que você use na chave. Eis que perdemos pessoas incríveis, conhecemos gente que poderia estar aí até hoje, mas nada anda. E o que fazer nessas horas? Bem, paciência. Não tem muito o que fazer. Uma boa ideia é seguir aquele velho e manjado conselho: permaneça disponível, ainda que fechada pra balanço. Uma hora o tempo leva, digo por experiência própria. Uma hora você acorda e vê que os batimentos cardíacos voltaram a aparecer no monitor. De alguma maneira, surge uma força acima da inércia que faz seu corpo, sua mente e você acordarem pro mundo real. Eu só não sei quanto tempo leva até isso acontecer. Eu só estou esperando.
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