[Você pode ler este texto ao som de Elastic Heart]
Ontem eu tava no metrô ouvindo uma playlist aleatória do Spotify quando tocou o trecho da música que eu levantei como bandeira por anos. “Não pensa mais nada, no final dá tudo certo de algum jeito. Eu tropeço, eu me acerto, eu não passo do chão.”
Faz tempo que eu não escutava isso. E faz tempo também que eu pareço ter me esquecido de como é um ciclo gostar de alguém e ser rejeitado – ou perceber que a gente não foi feito pra dar certo. A gente se esquece o tempo todo e parece que o novo amor, esse que detonou a gente, esse que é o assunto da vez nas conversas do whatsapp, esse que fez a gente baixar a discografia da Adele como se tivesse em 2012 de novo, esse amor uma hora ou outra passa.
Quantos amores com dores parecidas com esse eu já não tive? Tive uns amores que eu podia jurar que a dor era física, uma pontada que era angústia pura, papo de não conseguir dormir de tão nervoso que eu ficava pensando sobre. Pensando em todas aquelas coisas que a gente pensa quando não tem quem quer, quando não é amado como pensa que ama. O ritual básico é mais rotineiro do que imaginamos: tristeza, uma fossa absurda, uma esperançazinha no meio do túnel, daí a pessoa vai e faz alguma coisa, porrada de novo, parece que nunca vai passar, que nunca vai chegar alguém pra mostrar que tem jeito, parece que dessa vez é diferente, mas… quantas outras vezes já não foram exatamente iguais a essa? Várias.
Acho que a nossa memória afetiva prega peças na gente. É um jeito de nos fazer reviver alguns enredos parecidos trocando só as personagens. Dor de amor a gente já sentiu umas 3 ou muitas vezes na vida, e ninguém morreu. Estamos aqui vivos e quebrando a cara de novo. E por mais óbvio que isso seja, por mais banal, a gente sofre. Ouvindo a música no metrô eu parei pra olhar pra trás. Sofri e superei tanta gente já, fiz sofrer e fui superado também. Já passou muita gente e ainda vai passar, mas não é claro porque eu tô muito envolvido nisso ainda. E se tem algo que aprendi com relacionamentos é que a gente sempre vai ser meio míope quando tiver emocionalmente envolvido na questão.
Então, da próxima vez em que você achar que o mundo vai acabar e que você nunca amou alguém assim pra ficar tão mal, reveja seu histórico amoroso. Reveja com detalhes. Provavelmente você vai se lembrar de quanto amou alguém e de como isso passa. Vai se lembrar de que a fossa é necessária, assim como todo o processo de se esquecer um amor. Não tem lugar melhor para se tirar forças do que a nossa própria vida. Você talvez enxergue no passado uma forma nova de encarar o presente, mesmo que seja só um aconchego do tipo “já passei por isso, não vou morrer, vamos nessa”.
Hoje em dia meu mantra é exatamente esse “eu tropeço, eu me acerto, eu não passo do chão”. Daí eu lembro que o coração é elástico, que ele se dilata pra fazer com que alguém entre, e dói pra caramba quando alguém sai do nada. Mas assim como ele abre a ferida, ele volta ao tamanho normal depois de algum tempo. E é como a dor de uma tatuagem – se você já fez mais de uma, vai saber o que eu quero dizer. É uma dor conhecida depois da primeira vez, você já vai sabendo que vai passar e que não é o fim do mundo.
“Mas, Daniel, e se não passar? E se dessa vez for mesmo diferente e eu estiver sofrendo por alguém que não tá aqui?”.
Daí eu te digo: não pensa mais nada, no final dá tudo certo de algum jeito. A gente tropeça, a gente quebra a cara, a gente come todo o sorvete do supermercado e bebe pra esquecer, a gente faz burrada e manda mensagem, a gente executa todos os clichês possíveis pra situação. Mas olhando pra trás é mole dizer: pode vir, a gente aguenta mais uma colisão. E não vai ser mais uma que vai matar a gente (porque ainda tem muita pela frente pra aguentar).
Uma hora ou outra gente precisa se levantar de novo pra contar história.
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