Às vezes, você não vai perceber quando ele chegar


[Você pode ler este texto ao som de Cherry Wine]

Tava aqui no meu cantinho, preocupado com as contas que eu tinha que pagar, com o remédio da ansiedade que mudou o meu humor de uma hora pra outra e com as ligações ininterruptas dos meus pais pra saber se eu tinha me matado por acaso misturando as dosagens quando ele chegou. Ele não bateu na minha porta nem esbarrou comigo no meu café preferido. O bendito me adicionou no Facebook e puxou assunto sobre o tempo.

Caguei na cabeça dele e deixei pra lá.

Talvez eu tenha me treinado a olhar pro outro sempre em busca do que eu espero em alguém. Mas o que eu espero em alguém? Eu nunca soube e acho que a tal coisa mudava a cada ano, exatamente como eu mudava também. Primeiro eu achei que era admiração. Depois eu achei que era a paixão ardente que consome o estômago. Mais tarde achei que era coerência. E foi assim com inteligência, beleza, humor, morar perto, ter todos os dentes da boca, não ter bafo, parar de me fazer perguntas idiotas, ter boa memória, lembrar de mim durante o dia. Foi tanto critério sendo colocado na posição de primeiro lugar que eu até me esqueço de listar essas bobagens.

Num belo dia, ele perguntou quando é que eu pegaria o próximo avião – e eu não sabia. Não sabia de mais nada além de que a minha vida tava uma confusão grande demais pra eu pensar em amor. Fui lá e comprei passagens. “A gente se encontra no caminho, viu?”. Cê consegue acreditar que eu me joguei num lugar que eu tinha cer-te-za de que seria furada e não foi? E não era furada por conta do outro, mas por minha causa. Eu tinha tanta certeza (e uma certeza errada) de que tava cansado, de que tinha que ser do jeito que eu queria, de que eu saberia exatamente como era – e de que eu já tinha gastado minha cota de me apaixonar nessa vida -, que eu nem percebi. E às vezes vai ser assim: você não vai saber quando ele chegar.

Tem gente que chega e dá um toque diferente na vida da gente. Tipo pipoca com toque de chef, sabe? Tu não diz que é boa de primeira, faz cara feia, mas quando come dá o braço a torcer (ou não, talvez tu não goste, só espero que tenha entendido essa referência pobre). Tem gente que parece ser exatamente quem você não quer, e não tô falando sobre não ser legal ou gente boa, tô falando de não seguir a tua receitinha básica de bolo. Gente que vai surpreender você e tu nem vai perceber.

Alguma coisa me dizia pra não ser tão duro. Uma pontinha de mim berrava no fundo da minha cabeça que a gente nunca vai encontrar amor se nós não estivermos dispostos a isso. Não é procurar, saca? É estar aberto a olhar pra alguém e dizer “por que não?”. Por que não abrir uma vaga na vida pra alguém que mexe com a gente? Por que não repensar as nossas crenças profundas de que o amor é assim, o amor é assado. No fim das contas, pode dar um belo dum resultado ir na direção contrária a que nós desenhamos como sendo o tal do caminho certo.

E foi assim que eu me joguei. Ainda não sei onde termina esse túnel aqui, viu? Mas posso te adiantar que a jornada tem sido incrível. E que fazia tempo que eu não me permitia. Esse tempo todo, foi tudo sobre permissão. Às vezes, só às vezes, não se trata de ser a pessoa certa ou errada, porque você nem se deu a chance de descobrir. Se trata da forma como você permite que as pessoas entrem na sua vida sem colocar uma barreira em torno delas, evitando que o tal do amor te encontre.


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