Desculpa, mas eu já não sinto mais nada


– Pra quê você veio?
– Eu queria saber como você está.
– Como você acha que eu estou?
– Não sei, mas minha esperança é que esteja com saudade de mim.

Eu já não sentia saudade há muito tempo, mas confesso que houve um tempo em que ela controlava tudo. E assim como os domingos, a saudade simplesmente não passava.

Você foi embora sem explicação. Arrumou as malas com a mesma frieza e tranquilidade que escovava os dentes todas as manhãs. Mas dessa vez você não voltou até a cama pra me dar um beijo de hortelã com gosto de bom dia. Você simplesmente saiu. Deixou pra trás planos de felicidade eterna, e um amor impossível de caber no peito. Me deixou nua, quebrada, perdida. E o café da manhã esfriando na mesa da cozinha.

E por dias eu me recusei a sair de casa, na infantil esperança de você voltar e eu poder fingir que tudo não passou de um pesadelo.

Mas você não voltou. Nem sequer ligou pra saber se eu sobrevivi ao tsunami que você causou.
E o tempo finalmente passou.
E os domingos eternos de Netflix e cobertor se tornaram dias de ressaca com as amigas rindo de histórias de Tinder.

Meu mundo ficou tão grande que a saudade de você se perdeu em algum cantinho. Às vezes eu sinto meu corpo esfriar de repente como se sentisse falta de alguma coisa. O café-da-manhã fica com um gosto mais amargo e minha cama levemente mais desconfortável. Nesses dias eu aprendi a levantar mais cedo, sair rápido da cama e ir pro parque correr. Deixar que meus poros derramem

lágrimas por você ou por todos os sonhos que você levou embora.
Muitas vezes nessas noites frias eu me esquento em camas desconhecidas ou algumas conhecidas que eu guardo para dias assim.

E agora você volta.
Penso em te contar toda dor que me causou. E todas as aventuras que sua ida me permitiu viver.

Mas ali, olhando pra você me exigindo saudades, eu só lembrei dos tantos momentos que precisei sair do metro correndo pra respirar. Do desespero de procurar abrigo pra não me inundar em lágrimas. Do pânico de descobrir que agora estaria sozinha nesse mundo enorme procurando onde eu me perdi.

Decido que você não merece ouvir minhas histórias. Nem explicações.

– Sinto muito. Mas já não sinto nada.

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