[Você pode ler este texto ao som de Whataya From Me]
Depois de 20 e tantos anos de vivência e uns poucos anos de interações com seres humanos em relacionamentos, cheguei à conclusão de que prefiro cachorros. Não, não é nenhum caso de zoofilia ou alguma intenção afetiva de manter relações com animais domésticos, calma lá. É só a constatação de que pessoas podem ser exaustivas em certos pontos da vida.
“Não sei se quero”, “não sei se posso”, “não sei se hoje dá”, “gosto de você e também gosto dele”, “é que tem meu ex na jogada”, “você se importa de não contar pra ninguém da gente”, “eu vou te apresentar como meu amigo”, “eu não sei o que eu sinto por você”, “vamos continuar levando e ver onde dá”, “ele é só um amigo que eu pego de vez em quando”, “não sei se tô preparado pra um relacionamento sério, sabe?” e por aí vai. São tantas e tantas frases que desgastam durante as fases de conquista e começo de relacionamento que dificilmente se engrena em algo. Além das pessoas interessantes, a busca também é por pessoas descomplicadas e coerentes.
Veja bem, hoje em dia a gente trabalha, estuda, faz o corre pra pagar as contas, tem que manter a vida mais saudável, marca médicos sem a ajuda dos pais, tem que dar conta da casa, tem que cozinhar, tem que fazer um monte de coisas em prol do próprio bem estar. Inserir outra pessoa no meio dessa vida mais complexa não é tão fácil quanto era na época da faculdade ou do colégio. Não é só gostar de alguém e pronto. Tem muita coisa em jogo, inclusive a paciência. Você já se sentiu cansado a ponto de não querer entrar em relações por um tempo? Pois é, acontece.
Cheguei naquela fase em que relacionamentos são desgastantes. Pessoas são complicadas e, na maioria das vezes, deveriam procurar ajuda terapêutica para resolver traumas e questões que não deveriam envolver terceiros. Relacionar-se é um ato não só de coragem e de abertura emocional, mas um exercício de paciência. Dispor-se a entender o outro é um investimento de tempo que poderia ser empregado em outros setores da nossa vida que precisam de atenção. Pessoas enroladas e que não nos dão a mínima visão de futuro só servem para gastar energia.
Não consigo mais marcar encontros ou passar mais de três meses com alguém que não vai pra frente. Gente que só dá desculpas, que é confusa demais, que ainda sente algo pelo ex. Gente que nunca pode nada, que adora manter os contatinhos ali do lado, que não tem a menor ideia do que tá sentindo por mim. Gente que não trepa e nem sai de cima, que não dá um passo à frente, que não vai passar de um daqueles rolos enrolados que a gente não sabe explicar direito pros amigos o que foi que aconteceu.
Não consigo mais dispensar energia que não seja pra dentro de mim. Quero dar carinho pra mim, me levar pra passear, ver os filmes do Oscar sozinho, escolher um puta restaurante legal pra jantar, comprar passagens aéreas, economizar dinheiro para ir fazer um mochilão, decorar minha casa nova, comprar uma bike pra ir dar voltas ao parque, passar uma manhã inteira na cama lendo algo sem precisar sair dela, fazer tudo o que eu já fazia antes comigo mesmo, mas sem dar brecha pra alguém interferir nisso. Repare só: não é nada de extraordinário, nada que a gente já não faça, nada que não exista numa relação em que o amor-próprio já impere. Essa é só uma fase de autopreservação e de identificação de prioridades. Gato, cachorro, periquito, papagaio ou um amor-furado: nenhum deles tem lugar na minha vida se a companhia não fizer bem e servir só pra gastar o tempo que eu poderia estar gastando cuidando de mim.
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