[Você pode ler este texto ao som de I Hate U, I Love U]
Por que a gente tá junto? Oras, porque a gente tem mais nada.
E o que isso significa?
Significa que não tem amor, teve um dia, agora não. No máximo, tem um afetinho guardado em algum lugar junto com a poeira da sala que eu não tirei na semana passada. Desculpa, tive que ir viajar às pressas, não deu tempo. Reparo naquele canto quando voltar, tudo bem?
Tudo. Demorou muito tempo pra gente admitir isso, né? Que a gente só tá junto porque a gente tem nada. Se eu tivesse alguma perspectiva de vida, alguma certeza de que quero artes ou rodar o mundo provando sorvetes, eu não ficaria com você. Me apeguei porque quem não sabe o que quer, escolhe qualquer coisa.
Aham, foi isso. Lembro que eu tava dançando com uma menina no aniversário da prima da sua irmã e você tava mexendo no celular com a maior cara de tédio do mundo. Eu também tava entediado. Achei que você me entenderia.
Te entendo há mais de dez anos, baby. Você também. Fomos dois entediados dividindo a solidão juntos. E as pessoas têm uma mania horrível de achar que dividir solidão é o mesmo que companhia, não é? Elas que se fodam. É uma porra completamente diferente. Como é que tá a viagem?
Tá boa. Tenho que aturar uma galera chata do trabalho, mas pelo menos tô longe de você. Daqui a pouco eu passo numa loja pra te comprar algum souvenir, ainda não decidi muito bem o que vou te dar. Escuta, você era mais bonita que a menina lá da festa, viu? E mais legal. Eu só não te amava, mas a gente não precisa disso pra estar com alguém. É tão fácil, só parar do lado.
Me traz um vinho ou um uísque, alguma coisa forte e gostosa pra compensar o vazio que você me dá. Ah, traz um bonequinho novo pra minha coleção de cabeçudos. Eu sei que eu era mais bonita, eu sei que eu fui a mais bonita, eu sei que você não fudeu ninguém melhor que eu. Não posso dizer o mesmo, mas você é um cara legal, tem bom coração. Eu só não te amava, mas a gente não precisa disso pra estar com alguém. É tão fácil, só encontrar alguém cansado do mundo lá fora.
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Minha mãe dizia que o ideal é escolher alguém com quem você goste de conversar, pro caso de ter que passar a vida inteira junto. Eu gosto das suas piadas. Já é um bom sinal.
Tua mãe não sabe porra nenhuma da v-ida. Eu não vou cuidar de você, eu mal cuido de mim mesma. No máximo, vou continuar ali do lado. Vai ter choro e vinho, vai ter a gente rindo das piadas ruins do outro e se perguntando por que gastamos a vida inteira com alguém que não era a tal pessoa da nossa vida.
Pelo menos nós não vamos ter que passar a vida procurando pela tal pessoa. Tem gente que passa.
É verdade. Tem gente que passa. Tem gente que acha. Tem gente como a gente que só chega e para do lado de outro entediado pela vida. Aproveita e me traz também um livro novo? Preciso conhecer alguma boa história.
Levo sim. Cê acha que isso acaba rápido?
O quê?
A gente.
Nada. A gente sabe que não vai acabar. O que não é necessariamente bom nem ruim.
É isso que me assusta.
O quê?
A gente.
O que tem a gente?
Nada. A gente não tem nada.
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Meu livro novo Depois do Fim acabou de sair nas livrarias. Ele fala sobre a nossa vida depois de perder um grande amor rumo à superação dele. Se você gostou desse texto, eu tô deixando três opções com desconto pra você comprar pela internet.
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