[Você pode ler este texto ao som de Piloto Automático]
Sempre que me perguntaram qual era o meu grande sonho, me peguei pensando se sabia exatamente qual resposta dar assim, no modo automático. Tenho alguns sonhos, uma parte deles já foi até concretizada, outra parte tá bem longe de acontecer. Mas acho que nunca tive aquela coisa louca que me motiva a seguir por aí – ou nunca soube o que era. Ainda assim, encontrava aqui e ali umas boas razões para acordar e levar a vida do jeito que dava, apesar de sentir uma angústia muito grande com o passar dos dias. Tinha a sensação de que a maioria de nós estava preso pelo resto da vida à grande Roda Viva: acordar, trabalhar, pagar contas, dormir pra recomeçar a mesma coisa no dia seguinte. E eu não queria isso, não queria essa sensação de que a vida se resume a isso.
A maioria dos meus amigos diz o mesmo: a gente acorda pra ter dinheiro pra viver. E o grande propósito de vida deles nunca apareceu. Talvez seja um grande luxo, penso eu. Essa coisa de entender quem você é, o que você quer fazer e trabalhar em torno disso sem ter que depender de dinheiro exclusivamente. Digo isso por mim até. De um ano pra cá, resolvi deixar a minha vida como publicitário para me dedicar ao universo da internet. Cuidar do blog, escrever livros, criar um canal no YouTube, fazer a vida acontecer do lado de cá. E até que deu certo, afinal de contas, eu tava fazendo o que eu amava. Até que. Até que eu já não tava escrevendo por amor, mas para pagar contas. Eu não abria o blog para contar algo interessante e que mexesse comigo, mas porque era meu trabalho. Eu já não via gente e saía de casa com frequência, porque meu trabalho tinha virado meu computador e meu quarto. Pois é, tentei fugir de um mundo e caí na mesmice de outro. Tudo isso porque, infelizmente, a gente precisa de dinheiro pra viver, não é?
E foi aí que chegou o diagnóstico da depressão, fortemente anunciada pelas crises de ansiedade, pela gastrite nervosa, pelo descontrole emocional. O que é que a gente faz quando descobre que não é feliz fazendo o que se ama? O que é que a gente faz quando a coisa que mais nos dá prazer na vida vira martírio? O que é a gente faz quando o que parecia ser o grande sonho vira um enorme pesadelo?
Deixe-me contar uma coisa: depressão é um bicho muito apavorante. Você sai, você se diverte com seus amigos, você leva uma vida normal quando, de repente, o mundo cai. Seu humor fica alterado, você só quer deitar no seu quarto, chorar, ficar trancado por dias. Você fica apático, nem sua comida preferida ajuda. Teu peito aperta, você sente a angústia deixando o coração pequenininho. E daí a ansiedade não ajuda nas coisas: você congela. Não consegue se mover e fazer uma só coisa que deveria fazer e, do nada, elas todas vêm juntas e com uma força enorme enchendo a sua cabeça de coisas. É um terror, gente. Um sentimento de impotência que ninguém deveria ter que passar por.
Eu não tenho escrito muito por conta disso. Eu não tenho feito nada: não tenho lido, não tenho aprendido coisas novas, me sinto mal se tiver algum momento de prazer porque parece que não estou me esforçando no trabalho, me sinto horrível porque parece que eu falhei na vida quando percebi que as coisas que deveriam me fazer feliz não servem da mesma maneira quando dependo delas para ganhar dinheiro. E me sinto pior ainda por perceber que o dinheiro tem esse peso tão grande nas decisões do dia a dia.
Em certos momentos da vida, parece que a gente enfia a perna na porra de uma areia movediça forte feito super bonder e fica grudado até sentir a respiração ser cortada porque tá afundando. Eu não quero que seja assim. Eu não quero só sobreviver nessa vida, como se tudo fosse feito apenas para que a gente tenha uma vida em vão, em prol de nada. Eu não quero ter que conviver com tanta angústia, tanta ansiedade, tanto medo do futuro como eu tô vivendo agora. E se você também se sente assim, olha, eu não sei exatamente o que te dizer porque ainda não descobri como sair dessa. De verdade, eu não sei. Mas queria dizer que você não está sozinho. Eu te entendo. Infelizmente, eu bem sei como é, como tem sido, essa coisa de tentar só sobreviver no mundo.
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