Ele não vai mudar


[Você pode ler este texto ao som de Não Aprendi a Dizer Adeus]

Ele me disse que faz de tudo para não perceberem quem ele é; não quer ser reconhecido, tem medo de ser frágil, tem receio de que descubram as coisas que ele esconde. E é por isso que ele machuca todo mundo que chega perto dele. Parece que alguém quebrou cada parte dele em mil pedaços e hoje ele corta. Ele é um bando de cacos brilhantes no chão, e você acha que é uma estrada iluminada, você acha que ele brilha por você, mas é mentira. Quando você passa, ele arrebenta a tua pele, rasga tudo, desfigura as suas intenções. Ele fica da mesma forma, você não.

Entendo gente que se defende dizendo que foi muito magoada e que não aprendeu a lidar com outras pessoas. Já fui muito ferido em campo de batalha, já ajudei a remendar gente que não tinha salvação, mas eu acreditava que tinha. Já fiz tanta coisa que até ele duvidaria da minha fé – não é uma fé religiosa, mas algo que acredita na cura pelo amor, na cura pela vontade de ser melhor para quem te ama. Essa fé toda caiu por terra quando dei de cara com ele fumando meus dois últimos cigarros na escada de incêndio enquanto chorava, dizendo que iria embora e já tinha comprado passagem.

Você já acreditou tanto que era capaz de salvar alguém a ponto de desistir de se salvar?

Eu já. Acreditei tanto que ele era um cara bom que tinha se fodido umas vezes na vida, mas estava disposto a tentar. Acreditei tanto nessa fé cega enquanto ele mesmo gritava que não seria comigo – talvez seja com ninguém, mas pouco importa, isso não serve como prêmio de consolação. Tem gente que nunca vai ser salva, você nunca vai salvar alguém e o pior é que você vai se foder tanto nessa história toda, mas tanto, que vai gastar todo o décimo terceiro em sessões de terapia.

Ele pode ter sido alguém machucado, mas isso não impediu que ele acabasse comigo. Ele pode não ter aprendido a catar aquelas merdas daqueles cacos deixados no chão, mas também não aprendeu a avisar que cortavam. Ele pode ter achado que ir embora seria uma forma de me salvar, mas ele só tava estragando tudo mais uma vez. Ele não vai mais voltar depois dessa – e eu sinto uma vontade imensa de atirar tudo dele pela janela, de esfaquear a pele dele, de machucar outra camada por baixo até atingir a alma, pra ver se ali tem alguém que sente ou só infringe dor.

Parece que alguém quebrou cada parte minha em mil pedaços e hoje eu corto. Eu sou um bando de cacos brilhantes no chão, e você acha que é uma estrada iluminada, você acha que eu brilho por alguém, mas é mentira. Quando alguém passa, eu arrebento a pele, rasgo tudo, desfiguro as suas intenções. Ele foi embora e ficou da mesma forma. Eu não. Eu fiquei igualzinho a ele.

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