Toco minha vida ou fico te esperando?


[Você pode ler este texto ao som de Feel Me]

Tenho um amigo que acredita fortemente em karma – aquela crença de quem tudo o que a gente faz na vida volta um dia. Conversando com ele sobre (tentativas de) relacionamentos que tive, ele se mostrou motivado a fazer entrar nessa minha cabecinha dura a ideia de que ser honesto e claro com o outro era a melhor maneira de não acumular karma negativo.

De um tempo pra cá, tentei aplicar um pouco desse tipo de honestidade. É difícil, viu? Tudo é muito mais fácil quando nós escolhemos sumir aos poucos da vida do outro, como se nunca tivéssemos existido. Parece indolor e nos salva do constrangimento de explicar os motivos pelos quais nos desencantamos. Na primeira tentativa foi difícil, mas o alívio posterior não teve preço. Na segunda tentativa, tomei um belíssimo pé na bunda, mas resolvi bem as coisas e deixei pra lá.

Dessa última vez, percebi que o ser humano estava lentamente desaparecendo. Perguntei se ele havia perdido o interesse, ele disse que não era isso. Mas era.

Foi falta de interesse quando ele parou de conversar comigo. Quando me disse que estava cansado e não teria tempo para sair. Quando dei de cara com ele numa festa. Quando disse que o carro tinha quebrado e que não poderia arranjar outra forma de sair. Quando eu vi que na mesma semana ele tinha saído quase todos os dias pelo snapchat. Quando fui numa balada e dei de cara com ele se atracando com outra pessoa. Foi puro desinteresse.

Não é como se eu estivesse apaixonado ou algo do tipo. Eu só estava interessado. Você talvez já tenha passado por isso. Esteve interessado em alguém, deixou isso bem claro, começou alguma coisa e, do nada, o outro some. Ele some, mas seu interesse não. Então alguma coisa ali te incomoda. O afastamento incomoda, a falta de resolução incomoda. Você quer saber se já pode tocar a sua vida ou ficar esperando o outro. E não é como se ele não soubesse o que quer. Ele sabe exatamente o que não quer: você. Por conta disso, fui atrás de resolver as coisas.

Talvez me achem precipitado e maluco, ou digam que eu não tenho direito algum de cobrar alguma coisa de alguém com quem tenho nada. Mas tenho todo o direito de entender se ainda vou dispensar tempo, esforço e energia com uma pessoa. Não era por ele, era por mim e pela minha necessidade de entender claramente o que fazer. Às vezes, as pessoas acham que não estão fazendo nada demais e somem. Resolvem as coisas na cabeça delas. Não se importam com os sentimentos (e com o tempo do outro). Tudo bem, cada um tem a sua maneira de encarar a vida quando não dá match. Só que elas se esquecem que, enquanto elas vão, alguém fica. Eu fico, você fica. E não custa nada dizer pra gente seguir a vida, não é?

Por conta disso – e do tal karma negativo -, tenho preferido resolver todas as pontas soltas que ficam por aí. Sejam elas criadas por mim ou deixadas para mim. É a melhor maneira de ter relações mais saudáveis e cultivar menos preocupações. Desinteresse acontece e nós não temos obrigação alguma de querer alguém. A nossa única obrigação é não envolver pessoas em confusões sentimentais só porque não conseguimos dizer o que sentimos. Até porque o universo já tem me mostrado que ser cuzão nessa vida é sinal claro de que o karma negativo volta feito bumerangue. É melhor que o atiremos gentilmente em direção ao outro para que ele não volte com tudo e acerte a nossa cara bem em cheio no futuro.

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