Ninguém vai ser igual a você


[Você pode ler este texto ao som de Nothing Compares To U]

Eu posso até dar uma pulo numa feira de Cosplay para ver se encontro alguém parecido com você, algum sósia perdido no meio de um concurso de calouros ou coisa do tipo, mas não vai ser a mesma coisa.

Não vai ser o mesmo jeito de tratar as xícaras coloridas do armário porque ele não vai saber que elas só são coloridas porque não fazem parte do mesmo conjunto. Quebrei todas tomando café, caíram da minha mão e eu esqueci de ler o futuro no fundo delas. Se tivesse lido, elas diriam: ele tá indo embora, porra, faz alguma coisa pra consertar vocês dois. Só que não ainda não inventaram super bonder que repare dois coração partidos.

Não vai ser o mesmo jeito de pintar paredes, parando de dez em dez minutos para me tacar tinta, jurando que a nossa obra conjunta chega aos pés de um Picasso. Ele só vai reparar que tem uma parede manchada e perguntar por que cargas d’água eu não consertei ainda. Podia chamar um pintor? Podia. Mas não vai ser a mesma coisa, nenhum cara que entrar aqui em casa vai ser a mesma coisa.

É que tudo que eu fiz por muito tempo tem muito de você. Tem o teu jeito, tem o jeito que era nosso e não é mais, tem os gostos estampados nas paredes daqui de casa e nas paredes do vizinho e até no elevador que a gente usou pra transar quando ficamos presos por 40 minutos. O prédio inteiro já deve ter visto a gente – se não nos viram juntos, viram nossa sextape. Tem você no meu pulso, você nos meus sapatos, você no meu chá das 5, você na hora em que eu vejo Sex and The City, você no piano da sala que eu não sei tocar, você nas vidraças enormes da varanda, você no pôr-do-sol que eu jurei que nunca veria em São Paulo. Tem você até quando eu juro pra todo mundo que não tem mais de você aqui dentro.

Eu posso fazer um milhão de coisas, posso viajar pra longe, posso mudar de apartamento, posso encontrar teu irmão gêmeo numa Ilha do Caribe e ainda assim não vai ser você. Até você não é mais você – o que é mais triste. Você é um monte de cacos do que já foi, do que a gente foi, do que eu queria que a gente tivesse sido. Eu sou só cacos também, amor, não se preocupa que um dia a gente fica bem. Um dia alguém inventa um super bonder potente o bastante pra colar a gente. Um dia aparece alguém que não precisa ser você.

(Para me seguir no Instagram, basta clicar aqui)


Hey, o meu livro “Por Onde Andam as Pessoas Interessantes?” está à venda. Se você gostou desse texto, acho que vai gostar muito do livro.

Compre o seu com desconto em um dos links abaixo:
Cultura – Saraiva – Travessa

Aproveita e já se inscreve no meu canal do Youtube porque tem muita coisa legal vindo por aí!

-

Você também pode gostar desse assunto. Assista ao vídeo abaixo:

Comentários