Tchau, amor próprio


[Você pode ler este texto ao som de Selfish Love]

Eis que você encontra um cara. Aquele cara que dá baixa em todas as suas demandas imaginárias. Aquele cara que te faz apagar todos os aplicativos de pegação. Aquele cara que você jura de pés juntos depois do terceiro encontro que é alguém que você quer ter por perto. Aquele cara que diz tudo o que você precisa ouvir, que liga de dois em dois dias, e quem liga pra alguém nos dias de hoje?

Aquele cara que começa a dar sumidas esporádicas, mas tudo bem, você entende dessa coisa de liberdade, é coisa do signo dele. Aquele cara que passa a visualizar as suas mensagens e deixa para te responder dois dias depois dizendo que viajou. Aquele cara que passa a comentar em todas as fotos de amigos seus que você nem imaginava que ele conhecia. Aquele cara que disse que não iria poder sair com você na sexta porque tava viajando e você dá de cara com ele numa balada com outra pessoa. Aquele cara que te pede desculpas por um monte de coisas, mas explica que não é o momento certo da vida dele.

Aquele cara que deixou tudo claro desde o início e te disse “olha, é assim que as coisas são” e você admira a honestidade dele. Aquele cara por quem você já está arrastando um bonde e meio e faz com que você repense as opções que tem nas mãos: de um lado, você sabe que não vai aguentar essa coisa de ter partes dele, fragmentos dados em horários marcados enquanto ele desfila de mãos dadas com outras pessoas; do outro, é a única maneira de tê-lo por perto e você sente o labirinto em que se meteu. No curto prazo, aquele cara vai satisfazer tudo o que você pra ser satisfeito nos momentos em que vocês estiverem juntos. No longo prazo, aquele cara vai acabar com o seu mundo psicológico e sentimental porque você já se envolveu pra caramba com ele.

Aquele cara então repassa as responsabilidades de tudo o que você sentir para as suas mãos, afinal de contas, ele já te alertou de como se sente em relação a você, mas você nutre uma pequena esperança de conquistá-lo. Acredita que vai fazer aquele cara se apaixonar por você aos poucos e, quando ele olhar ao redor, já vai estar embrenhado nas teias desse amor gostoso que nutrirá por você. Aquele cara será seu, você pensa, e essa é a motivação para entrar nessa coisa esquizofrênica que te faz definhar dia após dia, a cada encontro não marcado na rua em que você o vê com outra pessoa, em cada momento em que você se torna invisível para ele com um ou dois beijinhos no rosto e cada um para o seu lado.

Cá entre nós, aquele cara nunca será seu. Aquele cara nunca vai se apaixonar por você. Aquele cara cumpriu a função social dele de ser honesto e você declarou que não se importa, então para ele, tanto faz. Aquele cara vai seguir a vida dele até se apaixonar por alguém e sumir de vez. Aquele cara não acha que deva nenhuma explicação, nenhuma satisfação, nenhum sentimento para você que aceitou o contrato dele. Aquele cara não vai fazer você se despedir só dele quando chegar a hora, mas vai te fazer dar tchau para o seu famigerado amor próprio. Aquele cara não vai nunca deixar de ser só “aquele cara”.

(Para me seguir no Instagram, basta clicar aqui)


Hey, o meu livro “Por Onde Andam as Pessoas Interessantes?” está à venda. Se você gostou desse texto, acho que vai gostar muito do livro.

Compre o seu com desconto em um dos links abaixo:
Cultura – Saraiva – Travessa

Aproveita e já se inscreve no meu canal do Youtube porque tem muita coisa legal vindo por aí!

Comentários