[Você pode ler este texto ao som de And I’m Telling You]
Na hora de terminar comigo, você virou e disse “eu espero que você esteja disponível quando eu também estiver”. Disse que o tempo iria abrir caminhos pra você e que era comigo que você desejava se encontrar depois do fim do túnel. Achei honesto, mas não dá.
Não dá pra eu ficar aqui parado esperando você viver. Não dá pra eu ficar aqui parado esperando uma decisão sua. Não dá pra eu congelar minha vida, minhas experiências, meus planos de passar as férias no Equador, de beber vinho barato em Lisboa, de congelar na Islândia a caminho de um festival de música. Não dá para eu achar bonita a sua promessa de me encontrar no futuro e ignorar o fato de que você não me escolheu quando podia ter escolhido.
Nos filmes que vi, nas comédias de Hollywood, nos dramas argentinos, nas histórias de alguns amigos e nas falas bonitas que encontro grafitadas pelas paredes de São Paulo, todo mundo fala sobre quão bonito é amar e ser amado, mesmo que esse tempo demore a chegar. Todos falam que a espera vale a pena, mas será que ninguém percebe o que acontece quando te pedem para ficar esperando? O outro quer viver sem você. No mínimo, sendo bem generoso, ele tem dúvidas sobre você e não quer se arriscar. Então pede para que você o espere.
Essa promessa silenciosa deixa no ar a ideia de que ele irá voltar algum dia. De que ele irá se arrepender de ter te deixado para trás e montará no primeiro cavalo branco encardido que achar depois de algum porre numa festa alternativa da Augusta. De que ele irá levantar da cama de alguém no meio da noite e ter um estalo de que queria era ter transado com você a noite inteira, não com outra pessoa. Essa promessa cria uma fantasia que não existe e que mascara a verdade: você não foi sorte o suficiente para que ele te escolhesse. E isso não é nem um pouco problema seu, é dele. O seu problema, ou melhor, o meu problema é o que fica. É como eu fico.
E eu, com o pouco que ficou, decido que não vou gastar minha energia esperando por você. Não vou reservar o que tenho a oferecer para outra pessoa, talvez mais decidida, que considere a estadia. Não vou deixar de completar meus planos porque você não consegue resolver o caos que é a sua vida. O máximo que posso fazer é lamentar. E lamentações como essas se dissipam em alguns dias, alguns meses. São dissipados à medida em que nós entendemos que fazer escolhas também faz parte de ter um bom amor, e esperar por alguém só parece bonito na arte. Na vida real, o significado disso é outro.
Quando você me pede para esperar por você, você espera que eu esteja para sempre disponível até você se cansar do mundo lá fora e resolver voltar. Mas, talvez, você não tenha percebido que não pode ter tudo.
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