Moça, pare de ser ciumenta. Seu namorado não faz o meu tipo.


Eu estava linda. Vestido longo vermelho, com um decote arrasante. Cabelos num penteado moderno, semi-desarrumado, make impecável e aquele salto preto de sola vermelha com 15 centímetros de pura sensualidade. Não havia uma única pessoa que não me olhasse, apesar de eu nem ser a atração principal da festa. Eu era apenas a madrinha de formatura do meu irmão.

Solteira, livre, leve, solta e com esse jeito espontâneo de ser, entrei no salão certa de que essa noite eu seria mais eu do que nunca. Eu estava segura, me achando, como dizem as vizinhas recalcadas para quem mandei um brinde.

Em meio a uma dança e outra, um amigo do meu irmão me chamou para dançar. Lindo. Quer dizer: MARAVILHOSO! E eu aceitei, claro! Conversamos um pouco mais de 10 minutos e mãe dele o chamou para fotos e eu, já ansiosa para vê-lo novamente daqui a pouco.

Quando eu estava a caminho da mesa da minha filha, uma moça bonita veio em minha direção:
– Moça, quem você pensa que é? Fica dançando no meio da pista, se achando a rainha da festa que nem sua formatura não é!
– Desculpe. Não entendi. Você está reclamando por eu ter ido dançar?
– Não. Estou reclamando de você ter ido dançar insinuante, sozinha no meio da pista e meu namorado e todos da festa ficarem olhando pra você. Se dê ao respeito, vadia!

Na mesma hora me levantei e estufei o peito, quando estava para falar várias, meu pai interferiu:
– Moça, minha filha estava dançando normalmente, como toda mulher pode e deveria dançar: como quiser! Se seu namorado e todos olham para ela, a senhorita devia se entender com ele e com todos os que a incomodam por olhar, não com ela. Ou a senhorita acha que ela não deveria dançar?
– Senhor, sua filha não presta. Mulheres iguais a ela que estragam casamentos. São mulheres como ela que seduzem homens como o meu namorado, coitado. Daí ele trai e o errado é ele, depois?
– Sim! O errado é ele, sim! Porque ela sequer olhou para o seu namorado.

Nisso, ao ver meu pai falando com ela, o tal namorado veio até a mesa e reforçou o discurso dela:
– Senhor, sim, sua filha que deveria se dar ao respeito e dançar sem chamar atenção.

Me levantei na hora de novo:
– Esse é o seu namorado? Moça, faça-me o favor! Brigar por macho já é feio demais. Brigar por macho que olhou pra outra que nem sabia que ele existia, pior ainda. Agora, por um macho lixo como esse seu, que além de feio de doer é um escroto que culpa as outras por ser infiel NA SUA CARA? Não sou eu quem tem que se dar ao respeito. É você que tem que se dar o devido valor e parar de andar com macho lixo e ainda reforçar o comportamento doente e machista dele, credo.

E eis que nessa hora, só para completar de vez, aparece o maravilhoso rapaz amigo do meu irmão:
– Linda, deixa esse povo invejoso pra lá. Vamos dançar? Eu quero te conhecer melhor e te ver dançar e reinar no meio da pista a noite toda.

E virou para a moça:
– Moça, com todo o respeito que seu namorado jamais teve por você: você está muito bonita. Não teria motivos para ele olhar para outra diante de você, a não ser o motivo que realmente existe: ele é um belo babaca.

E saímos. Dançamos a noite toda e todas as demais noites seguintes da vida.

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