[Você pode ler este texto ao som de Eyes Shut]
Estou emocionalmente frustrado e ligo para um amigo. Ele, que me conhece faz tempo, pergunta o motivo. Eu digo: mais uma vez, não teve final. “E por que deveria haver final?”, pergunta ele. E eu explico.
Todo encontro faz com que algo aconteça entre duas pessoas. Pode ser que não vá pra frente, mas você sai dele com uma impressão ou ideia formada sobre o ser humano que acabou de encontrar. Você sai de lá com vontade de beijar de novo ou nunca mais, sai de lá querendo vê-lo outra vez ou percebendo que os santos não bateram. Alguma coisa acontece entre vocês, e creio eu que isso seja unânime no campo dos encontros.
Sendo assim, pode acontecer de uma das partes acabar gostando do que houve naquele curto espaço de tempo, seja um beijo, um papo, sexo ou o que quer que tenha acontecido. E pode ser que o outro não tenha gostado e tenha percebido que não é pra ser. Na minha frustração de hoje, eu sou quem gostou do acontecimento rápido. Eu sou o peão que resolveu entrar no jogo e fez um segundo convite. E um terceiro. E um quarto. Todos negados.
Isso deveria ser sinal suficiente pra que eu desistisse, certo? Afinal de contas, as negativas engrossam o coro de que a outra parte não quer. É aí que reside o problema: a outra parte diz que adorou o encontro e pergunta quando vai me ver de novo. Diz que gostou do meu jeito e pergunta se pode me conhecer melhor. Diz um monte de coisas que não precisaria dizer, sabe? Somos todos adultos, todos entenderíamos o que um “não” quer dizer.
Digo mais: sou dessas pessoas que precisam de pontos finais em histórias mal resolvidas ou, neste caso, histórias que nem começaram direito. Um convite pra jantar que foi adiado, uma conversa em que o outro disse que ainda pensa em você, um chamado do nada no meio da noite no whatsapp. Essa prática de dar corda (porque sim, isso é dar corda) é cruel com o outro. É cruel com quem não sabe o que esperar do outro, quando tudo o que a gente queria era clareza. E nem precisava ser um tipo de clareza positiva, mas um tipo que encerre ou dê continuidade real à possibilidade de haver algo entre duas pessoas.
Meu amigo, aquele que atendeu meu telefonema, me disse para relaxar. “Foi só um encontro, ninguém tem obrigação com ninguém”. É aí que eu discordo. Todos devemos nos comprometer com honestidade com os sentimentos dos outros, uma vez que escolhemos mexer neles. Uma vez que cruzamos o caminho emocional de outra pessoa. Se pra você não vai dar em nada, ótimo. Diga. Ponha uma pedra no meio do caminho, mas não deixe a porta entreaberta. Não deixe que a esperança do outro se corroa e seja mais desgastante do que deveria ser. Não seja a pessoa que sai por aí trocando números de telefone com quem você não pretende nunca mais responder. Não prometa algo futuro com todas as palavras do mundo quando não é com o futuro do outro que você pretende cruzar. Essas coisas acontecem, e geralmente você sabe exatamente o que quer quando vai embora depois do tal encontro. Você não tem, de fato, obrigação com ninguém. Mas você também não precisa usar disso pra inserir reticências na vida de quem precisa de pontos finais.
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