[Você pode ler este texto ao som de Heartbreak Warfare]
Uma das coisas mais estressantes do mundo é o processo de conquista. Aquele meio de campo em que os encontros acontecem, os sentimentos florescem, as vontades vão ficando evidentes e ninguém diz nada. Chega-se à fase dos primeiros convites. E convites geralmente são desculpas esfarrapadas com intenções verdadeiras nos bastidores, que servem tanto para aproximar quanto para afastar as pessoas. Uai, como assim um convite vai afastar alguém? Te explico: a gente tem sofrido com um probleminha básico de comunicação feito pra quem entende de sinais. Deixamos a clareza de lado e exibimos um mundo inteiro cheio de hieróglifos e códigos, e salve-se quem souber decifrá-los. Os convites, nesse caso, entram na categoria misteriosa que nunca diz a que veio.
Aprendi que cinema significava que alguém tava a fim do seu corpo nu, assim como um café poderia significar isso. Mas eu vou pra cinema é pra ver filme e vou pra café trabalhar ou bater papo. Será que deu ruim na interpretação dos signos e passei a emitir os sinais de maneira errada? Nada disso. O problema é que não existe uma versão universal de entendimento. Cada pessoa vai dizer-algo-querendo-dizer-outra-coisa e a gente fica naquele lenga-lenga de “ah, mas você não percebeu? Eu tava te dando mole” e “poxa, não pareceu”. Gente, não é pra parecer nada. Se você quer, qual é a dificuldade em dizer?
Sei que não é tão fácil assim e que o nosso código de conduta afetivo manda fazer um charme do caramba antes de comunicar o que queremos. Até porque, pra todo caso, quem fala é logo taxado de atirado ou algo do tipo. Antes atirado pra cima de quem eu quero, do que atirado pra fora do campo porque falei nada. Mas é necessário perceber que desgasta demais isso de ler sinais, de enrolar pra não falar, de fazer charme a vida toda. Tirando a possibilidade da gente errar os sinais. Cansei de saber que aquele café era só uma reunião pra falar de negócios ou encontro pra me pedir um autógrafo no livro pro cara de quem a tal pessoa era a fim. Os tais sinais, a tal falta de clareza, o tal charminho alimentam pra porra as expectativas.
De um lado, parece super gostoso esse meio de campo sem saber o que o outro quer. Por outro lado, quanto mais experiências românticas a gente tem, mais a gente percebe que esse tipo de coisa só atrapalha. Perdemos tempo com as pessoas erradas, perdemos as pessoas certas, perdemos um monte de coisas. Por isso mesmo, adotei pra vida o lema de ser direto. Há quem goste e quem ache desnecessário. Há quem embarque na minha ou me dispense de primeira – convenhamos, nada melhor do que ir pra escanteio antes de estar envolvido em algo que não existe.
Por você não diz o que quer de alguém, de mim? John Mayer já dizia isso. Se você quer mais amor, por que você não diz? Não é difícil, não é a fila do Spoletto com cinquenta itens e alguém apressando a escolha. Pra gente é tão fácil dissertar sobre a vida em legendas no Instagram, relatar viagens no Facebook, fazer pílulas cotidianas sobre quem somos no Twitter e, antigamente, soltar indiretas no subnicks do MSN. Esse poder de comunicação, cada vez mais expandido, cai por terra quando chegamos aos velhos moldes de ter que dizer pro outro, cara a cara, o que queremos dele. Ou ainda não aprendemos a externalizar vontades e sentimentos, ou nos fechamos tanto na ideia de que romances precisam ser novelas mexicanas que fazemos de tudo, mesmo que inconscientemente, pra dificultar a chegada de um final feliz.
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