[Você pode ler este texto ao som de Lost Stars]
Parece engraçado, mas eu tava aí no lugar dele há um ano. Nem tem tanto tempo, cê sabe, se eu voltasse a passear pelo seu quarto, poderia dizer que continuo deixando o meu vidro do perfume na cama. Por quê? Porque o meu cheiro continua lá, não sei como ele não percebe isso, deve achar que é rinite, mas sou eu. Sou eu entrando pelas narinas dele e cutucando um pouquinho lá dentro como um aviso pra sair daí o mais rápido possível porque o lugar ainda é meu.
Não sei como ele não viu ainda que você sou eu inteirinho.
Você sou eu nas roupas novas que usa e na hora de organizar o guarda-roupas, eu que te ensinei a deixar tudo separado por cor. No início era uma brincadeira, mas você gostou. Gostou desse modo maluco e colorido de mexer nas coisas e gostou de mim. Gostou quando eu recitei Caio na cozinha enquanto a pipoca ficava pronta. Era o estouro do milho e Morangos Mofados, era o gosto do vinho e a gente testando o assoalho. Até hoje não sei por que a gente se sentou, por que você deixou a janela aberta e por que você não parava de falar do seu ex. Será que você fala de mim pra ele ou já passaram dessa fase? Será que eu já passei?
Eu tava exatamente onde ele tá agora. Talvez dentro do banheiro tentado a usar o teu shampoo sem sal e sem um monte de coisas que parece ser bom pra caramba, talvez enrolado no teu roupão verde que faz a gente parecer ridículo. Talvez fumando um na varanda e te pedindo pra tocar violão, cê lembra de umas três ou quatro músicas que eu sei. Uma daquele cara, aquele que eu nunca lembro o nome, o tal do Clapton. Se ele souber também, deve tá batucando na caixa acústica que eu deixei pra ti. Ou vai ver ele nem tá aí. Eu também não tô, paciência.
Não sei se quero a gente de volta. É verdade, não sei mesmo. Sei que de vez em quando eu sinto uma falta que vai crescendo do nada, pior que arrepio. Daí fico sabendo que cê foi com ele na peça que eu queria ter ido. Foi no restaurante do Marquinho e ele ficou sem graça pra caramba me contando que conheceu o tal cara. Cê até esbarrou com a minha mãe no mercado, mas ele tava na seção de legumes. Eu tava nos frios, sempre tive.
Fico sabendo de tudo isso, e será que era pra não ter sido mesmo e agora é? Vai ver você acordou do nada e teve certeza, tipo a Summer, mas com ele. Vai ver você só tá sem criatividade e repete o roteiro com todos nós, foi assim com o cara antes e vai ser com o depois dele. É só um bando de lugar que não significa nada pra você, mas pra mim vale. Não é só uma padaria ou um cinema de rua. É a padaria em que a gente tomou um porre de catuaba na virada do ano porque não tinha pra onde ir. É o cinema no qual você brigou com a atendente e a gente acabou ganhando manteiga extra. E ele?
Será que ele sabe que daqui a pouco vai sentir exatamente a mesma coisa que eu tô sentindo? Vai ver ele não precise sentir isso. Torço pra que não precise, que acenda o beck direitinho e que saiba cantar Caetano. Torço pra que ele descubra lugares novos e desarrume o guarda-roupas. Torço pra que essa falta passe e dessa vez você passe também. E torço pra que o meu cheiro saia logo do seu quarto e ele não se incomode mais comigo. Mentira.
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