[Você pode ler este texto ao som de Dead Again]
Hoje, por exemplo, eu sonhei com você de novo, mas dei descarga. Levantei da cama e você espiava pela janela, fechei a cortina na sua cara. Aí fui escovar os dentes e você pula do tubo da pasta, que saco, tive que te cuspir pro ralo. E no café da manhã, era você surfando no pão com manteiga, na frigideira da tapioca.
Fechei os olhos apenas pra mandar você embora. E você foi. Mas voltou, carrapato, e aí virou bagunça. Brotou da mangueira, enquanto eu aguava o jardim, virou limão que eu colhia, pulou até do saco de ração do cachorro. Peguei a chave do carro, pra dar uma espairecida, uma volta no bairro mesmo.
Vento entrando pela janela, ligo o som e você lá desafinado na rádio, no lugar do passageiro, enfiado no porta-malas. Dei seta pra esquerda, mas entrei à direita na viela pra te despistar e dei com tudo num poste que era a tua cara.
Você não sai nem esfregando, nem com chá de camomila, com anestesia, já tentei chinelada, inseticida, carne crua, e 3 Ave-Marias. Mas num tem jeito. Já pedi pra São Longuinho, pro universo, pro segurança da rua. Eu já tentei te riscar, apagar, rasgar, pisar em cima, esmagando que nem barata, mas pra você tudo é farra. Não solta do meu pé nem com arruda.
Me dá um espaço!
É que te ver me estraga, dá faniquito, tremedeira, dor-de-cabeça, dá bobeira, comichão. Só olhando pra lua, eu vejo cura, mas vai saber. E então me lembro de dormir. E dormir faz sonhar. Com você, por exemplo, tudo de novo.
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