A arte de elogiar as pequenas coisas


[Você pode ler este texto ao som de Rather Be]

Sempre foi muito mais fácil pra mim reparar o lado ruim das pessoas. Não só delas, mas o meu também. Se alguém me perguntasse agora quais são meus maiores defeitos, eu os listaria até amanhã. Se me perguntassem os defeitos alheios, talvez eu demorasse um pouco mais. Reparei nisso e fiquei me perguntando sobre o outro lado, sobre as vezes em que engrandeci alguém por uma qualidade sincera da pessoa, e em quantas dessas vezes a tal pessoa não era um amigo próximo. Pois é, poucas vezes.

A gente tem um costume muito recorrente de criticar toda e qualquer coisa que vemos de errado em alguém, e as críticas sempre sobressaem aos elogios. Se alguém está usando uma roupa feia, a gente nem repara em como o cabelo tá bacana, sai descendo o pau no figurino. Se alguém escreveu alguma coisa marromenos, a gente nem repara em como os anteriores foram bons e trouxeram uma mensagem positiva. O que grita aos nossos olhos é sempre o errado, o que pode ser posto em julgamento, a crítica (sempre construtiva, é claro, mas não) que podemos levantar fingindo pra nós mesmos que estamos sendo benevolentes e ajudando alguém.

Veja ao seu redor: você não diz constantemente às pessoas que ama o quanto elas importam pra você. Mas descarrega estresse, acusações, alfinetadas e críticas à vontade sob a alcunha da intimidade. Ou seja, já que são próximos e possuem uma ligação sentimental, você não precisa disfarçar com bons modos e certo afastamento a crítica que não faria se fosse um desconhecido ou alguém vindo de um ambiente mais formal. Ferimos sempre quem a gente ama porque não usamos casca e nem filtro pra dizer o que pensamos quando sentimos raiva. E as pessoas que amamos são sempre mais vulneráveis justamente por terem essa ligação sentimental. Ouvir críticas e coisas ruins de quem se ama vale por 5.

Por que então a gente faz isso? Acho que é condicionamento, sabia? Acho que é algo internalizado, comum, banal, mas que não deveria ser nada disso. O costume de enxergar as coisas ruins é mais fácil, já que elas saltam aos olhos, principalmente quando a gente utiliza aspectos físicos para tecer comentários sobre alguém. Raciocinar sobre as coisas boas, o impacto positivo, as virtudes e qualidades, sejam elas físicas ou psicológicas de alguém é muito mais difícil. Você raramente deve elogiar um artista que conhece e gosta, mas fala mal e critica aquele que não gosta nas redes sociais. Reclamar é mais comum. Destruir é muito mais fácil que construir.

E onde eu quero chegar com esse papo? Nessa mesma semana no Twitter eu atentei para uma coisa que a gente deveria fazer mais: reconhecer as pequenas qualidades do dia a dia de pessoas que orbitam o nosso mundo e elogiá-las. Vi que uma conhecida tinha ganhado uma corrida e ao invés de dar um like no Facebook e passar direto, deixei meu comentário parabenizando pela conquista. Liguei pros meus pais numa quarta-feira de noite e disse que os amava e que tava tudo bem, coisa que eu normalmente não faço. Parece que não muda nada na nossa vida, não é? Mas muda.

Quando a gente se condiciona a perceber e elogiar tanto as pequenas coisas quanto as coisas visíveis, a gente começa a condicionar a vida em torno de uma atitude positiva. Atitudes positivas são edificantes. É claro que ninguém espera que você seja positivo no ônibus lotado voltando pra casa depois de um dia cheio de trabalho, mas se o seu costume for perceber o mundo ao seu redor de outra maneira, de uma maneira mais construtiva que destrutiva, esse episódio pode não afetar tanto quanto afetaria. As cargas diminuem, os pesos também. Se a gente começa a enxergar no outro o lado bom, a gente também começa a perceber no mundo ao nosso redor o lado bom das coisas, inclusive o nosso. E as pessoas que são impactadas por nós levam uma mensagem melhor, de mais compreensão e entendimento, coisa que tem faltado na sociedade. Tudo se resume à empatia. A ter um sentimento de identificação pela história do outro e se enxergar na outra pessoa, de modo que tecer comentários construtivos seja um caminho para uma vida mais leve.

Parece papo de hippie, né? Mas nem é. Principalmente numa época em que a internet tem um poder tão grande de comunicação e ainda vemos estatísticas enormes falando sobre cyberbullying, slut shaming, porn revenge e outras práticas que tomam proporções destrutivas enormes e que têm o único intuito de ferir as pessoas. Vi uma palestra da Monica Lewinski em que ela conta que, segundo uma pesquisa, sentimos humilhação de forma muito mais intensa do que alegria e até raiva. É por isso que a gente fica tão pra baixo com comentários maliciosos e negativos que fazem da gente, mesmo que pra cada um deles haja 20 positivos.

Então, o que eu proponho aqui é que a gente estimule dentro de cada um essa arte de elogiar as pequenas coisas. De reconhecer sinceramente algo que você acha bonito ou encantador ou incrível que alguém faça. E que expresse isso. Admiração quando expressada sinceramente nunca vai ser confundida com puxação de saco. E eu garanto que a sua vida vai ficar muito melhor com o passar do tempo. Eu tô tentando. Você também deveria.


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bovonew

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