A sua melhor metade não respeitas linhas. Pula cordas, desvia de cercas e brinca de subir em árvores para estar com você. Ela não é uma das metades comuns que você encontra pela vida, nem uma das metades que você já esbarrou por aí. Ela é sua, e não de outra pessoa qualquer. A sua melhor metade não te completa, mas te faz companhia. Ela é melhor que uma metade só porque é um inteiro. E se doa por inteiro pra ser mais que um só com você. A sua melhor metade é bonita sem espelho e reflete em você de forma que nenhum deles pode ver. Ela é passageira ou fica pra sempre. Ela já veio ou ainda vai vir ou pode ter ido embora. Mas não adianta que escrevam canções e escrevam roteiros e escrevam histórias e escrevam destino e se esqueçam dos pontos e se esqueçam das vírgulas e se esqueçam de tudo: a sua melhor metade continua sendo sua.
A sua melhor metade sabe andar de bicicleta e segura o banco pra você não cair. Ela atravessa a rua ajudando velhinhos e te deixa admirado do outro lado com a bondade. Ela sabe ser gentil com o garçom por natureza e não vai traçar planos e fundos para te impressionar. A sua melhor metade falha e pede desculpas. Ela se fere e se machuca e se perdoa e te perdoa e fala coisas da boca pra fora e bate a porta e vai embora e volta arrependida. Mas é só sua quando olha bem fundo nos seus olhos e começa a rir, porque ela não consegue manter um ar sério perto de você. É que você contagia a sua melhor metade com algum riso, por mais estranho ou alto ou fino ou fora de ritmo ou fora de ordem ou fora de tom que você seja. A sua melhor metade joga ping pong e se veste bem dependendo da ocasião. Ela entra em lojas e faz caretas na vitrine e se acha infantil e te dá colo quando você sente falta de casa. Ela é meio criança, assim como você se nega ser. Ela é teimosa e faz biquinho, independente do sexo, da cor, da religião ou do assunto do momento.
A sua melhor metade canta em grego porque não fala inglês e lê livros que você nunca ouviu falar. Ela coleciona um montão de histórias em quadrinhos e toca o sino da porta da frente pra avisar que chegou. A sua melhor metade é uma surpresa. Porque não sabe quando vem, mas ela vem. E vem com flores ou com vinho ou com rosas ou com aquele vestido-cor-de-mar ou com aquele chapéu engraçado ou vem sem nada e deita com você. Ela é quente e te faz sentir calor no frio e calor em dias de sol. Ela te faz transpirar de alegria, de felicidade, de frio na barriga, de medo de perder, de dor de barriga porque comeu muito bolo de chocolate. Nah…a sua melhor metade é comilona, sim. E você acha graça quando ela se lambuza de chocolate ou faz bigode de café ou suja o nariz de sorvete ou joga creme chantilly no seu rosto ou quando faz a barba de shampoo.
A sua melhor metade não está num conto de fadas, nem num reality show, nem nos tal bares e esquinas e muito menos nessa vida virtual que você leva. Ela tá por aí ou por aqui e não tem nada de encantadora aos olhos dos outros. A sua melhor metade toca flauta e faz um som de vez em quando e você passa direto e parece nem ouvir (mesmo que isso seja dentro de casa). Ela é humana e você se esquece disso às vezes jogando toda a culpa, ou a calma, ou o amor, ou a esperança ou o que quer que seja em cima dela. Mas calma… Não se preocupa. Ela é sua. Tão sua que faz barulho baixinho pra não ter acordar e anda na ponta do pé por aí. Tão sua que fica corada quando você olha de relance e descobre um olhar terno e meio abobado na sua direção. Tão sua que é pura desordem, puro pudor, pura energia e pura fantasia (igualzinha a você). Ela te faz inteiro e te dá a mão no fim do show, da padaria, da roda de samba, do shopping center e te deixa conduzir a coisa toda. A sua melhor metade gosta de te ver dormindo e dorme junto ou do outro lado do mundo pensando em você. Ela é meio suave e calma, meio nostálgica e todas essas coisas que você já sabe de cor. A sua melhor metade, na verdade, é como essa canção de ninar que você toca toda noite. Boa noite, meu bem.
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