[Você pode ler este texto ao som de I Won’t Cry]
Essa foi a última vez que eu te disse “boa noite”. Talvez você não tenha percebido que eu sempre te desejo e você não vê, mas eu vou dormir com aquele sentimento de que eu deveria parar com isso e deixar pra lá. Se eu deixo de insistir nisso dói menos, saca? Porque a exaustão chega. Chega bem naquela hora em que a canela já tá doendo de tanto ter andado, chega na quarta-feira de cinzas depois que eu finjo que esse é só mais um carnaval com você. Eu real, você fantasia. Eu insisto e você desvia. Não li a sua placa, meu bem. Mas deveria.
Tudo em você grita que eu deveria te esquecer, mas eu teimo. Bato o pé feito criança pequena querendo o boneco da vitrine. Exatamente assim: eu quero alguém que tá numa vitrine. Parece próximo, mas não tá. Tá distante, tem uma parede que separa a gente, e essa parede é você. Tu cospe na minha cara, faz escândalo em cada sinal, escancara a porta de casa sem dizer uma palavra, mas eu te leio, você diz claramente que eu deveria te esquecer. Mesmo que eu não queira.
Você me varre pra baixo do tapete e assopra, nunca me tira de vez de casa. Você não percebe ou é puro sadismo? É aquela coisa estranha de gostar de me manter ali pra algo que tem a ver com ego ou indecisão, com a decisão de um santo ou sinal divino, não sei. Não sei o que você espera pra mudar alguma coisa aqui, não sei nem se você percebe tudo o que fala e o que não diz, mas enquanto me conta do seu dia e da vontade que tem de me ver, o seu corpo me expulsa daqui. Você é furacão, eu sou a estadia. Uma hora você vai me destruir junto com a história toda. E eu ainda insisto.
Te digo que é pra vir logo pra casa porque uma hora eu paro de deixar a porta aberta. Te digo que é bonito ver tudo o que você diz, mas eu cresci e não acredito mais no papo furado que só fica bem nos livros. Te digo um monte de coisa sem querer dizer, sem querer cobrar porque bem, eu sou mesmo é meu. Eu nunca fui teu, mas poxa, achei tanto que você me quisesse como eu quero você. Como eu sempre quis você.
Não queria te esquecer, mas você pede. Tudo, tudo em você me diz isso. Você me força quando eu poderia fingir que não li os avisos, não previ o impacto, quando achei que ainda poderia. Talvez você não tenha percebido, mas eu insisto. Insisto e você me mostra, me suplica, me cospe na cara que eu deveria. E eu ainda te digo pra vir logo, mas rápido, porque uma hora eu paro de te chamar e te esqueço.
Você não me diz nada. Só que dessa vez eu sei. É a última vez que te desejo “boa noite”.
Não li a sua placa, meu bem. Mas deveria.
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