Eu coleciono listas telefônicas vazias


[Você pode ler este texto ao som de Pendulum]

São 3h da manhã e eu desligo o telefone. Mais uma conversa que não vai dar em nada, mais um nome pra tentar decorar antes da semana acabar. Olho um pouco a tela do Whatsapp e vasculho a agenda telefônica cheia de nomes.

Não me lembro de metade.

São todos nomes rasos, comuns, cotidianos que poderiam ser de amigos de infância ou de gente que eu conheci na fila de um show ou na área de fumantes do bar. Passo o olho por cada contato tentando resgatar mentalmente a história de cada um. Tu Tu Tu…

Linha muda. Não sei a história deles, muito menos as características básicas da fisionomia, da voz, dos costumes e gostos.

Hoje em dia colecionar pessoas é fácil. A gente enche a agenda delas. Pra cada contato, dois ou três dias de uma conversa animada – mas nunca exclusiva – é o bastante. Não fui cativado, nunca somos, estamos apáticos. Pulamos de galho em galho pra repetir o ciclo até que, algum dia como esse, às 3h da manhã com um pedaço de pizza da boca e um coração meio vazio, a gente percebe o que faz.

Somos uma geração de amores fugazes, nem um pouco furiosos, nem um pouco densos. A gente põe bóia no braço pra mergulhar em alguém e ainda jura pros outros de pés juntos que adoraria ser puxado pra baixo com âncora no pé. Dividimos a atenção em possíveis amores, possíveis nomes a serem decorados com prazo de validade. O nosso amor se transformou em duas setas indicadas numa mensagem nunca respondida.

A gente se conhece e você me dá seu número. Ou a gente nem se conhece e você me dá seu número mesmo assim. Sorrimos um pro outro e tentamos descobrir afinidades, desafetos ou qualquer coisa que renda assunto. Um, dois, três dias. Se não nos virmos, morremos. Nos vemos. Sorrimos e um de nós acaba no quarto do outro. Beijo de bom dia e despedida. Um, dois, três dias. O silêncio falou mais alto. Morremos um pro outro. Tudo novo de novo.

bovonew1

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