[Você pode ler este texto ao som de Fligh Facilities – Clair de Lune]
Pense em todos os seus desejos de conhecer o Príncipe Encantado, o Sapo Ensopado, o Johnny Depp ou o Leonardo DiCaprio e jogue fora. Jogue fora também os rabiscos que você esboçou da boca dele, com os contornos e tudo mais, com as descrições anotadas numa lista de prioridades que variam entre olhos cor de mel e braços fortes pra te jogar nas costas e sair correndo. Jogue tudo isso fora e dispense as suas expectativas pra se apaixonar por um homem que seja real.
Apaixone-se por um homem que vai chegar do nada ou que vai ser melhor amigo daquele mala do trabalho que insiste em te chamar pro Happy Hour com a galera da RH, ou nem ligue tanto assim de onde ele vem, se tá num cavalo branco ou se pegou o 432 em direção ao Maracanã. Apaixone-se por um cara que vai andar na Lapa feito bamba e vai te chamar pra jogar video game na social do apê dele na Tijuca num sábado de tardinha. Apaixone-se pela simplicidade do convite, pela falta de tato romântico de quem convida por querer te conhecer melhor e não ter medo de expor os fortes e os fracos – como a alergia de gatos e os quadros com frases de cinema na parede do quarto. Apaixone-se por um homem que te mostra a casa como se fosse o coração dele.
Apaixone-se pela maneira com que ele olha pra você feito o Brad Pitt olhando pra Angelina. E acredite nele – porque ele sabe mais do que as revistas de beleza e que o seu espelho – que você é verdadeiramente bonita. Apaixone-se pela mania dele de levantar da cadeira nos momentos tensos do filme, derrubando toda a pipoca no chão e pedindo desculpas. Você vai acabar descobrindo as esquisitices dele e as coisas todas que deveriam ter sido jogadas pra baixo do tapete feito poeira, mas pra ele não importa, não importa que você veja esse lado porque ele não tem medo. Apaixone-se por um cara que não tenha medo de te dizer não quando discordar de você. Por um cara que vai negar alguns caprichos, ligar pra ter DR e que vai ser tão preguiçoso quanto você na hora de levantar da cama na manhã pós-sexo. Apaixone-se pelo cara que vai rolar com você pela cama, pelo chão ou pela vida enquanto acha a coisa mais gostosa do mundo ter você ali.
Apaixone-se pelos surtos, pelos sustos, pela pena que te dá quando você diz que hoje ele dorme no sofá e tenho dito. Ele vai voltar pra cama no meio da noite e te chamar por algum apelido considerado socialmente ridículo e você vai rir baixinho, por dentro, enquanto faz cara de brava e brada que ele deveria ser mais maduro. Vai trocar meia dúzia de palavras e tá bom, pode dormir aqui do lado, mas não encosta em mim. Quando notar, vai estar enroscada no peito dele numa conchinha, num desses clichês bobos de comédia romântica. Apaixone-se por um cara que também gosta de ser abraçado numa conchinha e que reconheça que o teu seio também é proteção. Esses caras costumam ser ótimos companheiros e dispensam aquele papo blá, blá, blá de que precisam ser machões e carregar o peso do mundo todo nas costas o tempo todo.
Apaixone-se por um cara desses normais, desses que você nem olharia na rua se não soubesse da história dele, desses que se fizeram notar no meio de uma multidão de outros caras que nem eram tão especiais assim pra você. Apaixone-se por ele sem reservas e deixe surgir aquela coisa bonita da vulnerabilidade quando perceber que ele abraça o cachorro sempre que chega em casa e te liga pra compartilhar o dia. Esse é ponto é importante: repare bem se ele é bom em compartilhar e, se for, abra um pouco mais o peito. Eu não garanto – ninguém garante – que você vai acertar dessa vez ou não se machucar. E eu sei que tudo isso fica parecendo regrado, fica parecendo aquela cagação de “faça isso, faça aquilo”, mas você deveria considerar meu último ponto, pelo menos: apaixone-se por um cara que faça bem pra você e que entenda que mesmo com tudo, com furacão ou pressa, com todos os problemas do dia a dia, ainda tem jeito pra ser feliz com você.