[Você pode ler este texto ao som de To Me – Chet Faker]
Antes dele, quem você era? Se é que você se lembra. Se é que você era. Eu sei. Ele te estragou. Você era pequena e frágil e boba e inocente e você nunca mais vai ser assim. E você era linda e você sequer se lembra disso.
E o cara da faculdade que tá te chamando pra sair há meses? E aquele cara que é dez anos mais velho que você e te acha linda e boa de papo e te pede uma chance tem no mínimo uns dois anos? Você nem lembra deles, nem do seu vizinho que não consegue disfarçar que é apaixonado por você, nem daquele seu primeiro namorado que não te esqueceu até hoje.
Você saiu outro dia e ficou com um cara bonitinho. E ele tinha cachorros e fazia direito numa faculdade conceituada e o beijo até que não era ruim. Mas olha como você é idiota, você nem deu bola pra ele, você só conseguia pensar que naquele dia era pra fazer um ano.
Você foi no cinema com um moço bonito e vocês se deram bem como se a vida tivesse feito vocês se conhecerem há décadas. Mas ele ficou um degrau abaixo de você na escada rolante pra te beijar, igualzinho ao cara que você amava, ai você fez questão de chegar em casa e chorar vendo todas aquelas fotos, mesmo você já sabendo a sequência delas de cor.
E aquele outro? Se vestia tão bonitinho, falava de você pros pais dele, e você até achava graça na barba que ele tinha. Ele tava cantando do seu lado no ônibus e ele tinha tudo pra ser o cara, mas você virou o olhar pra janela esperando que ele não percebesse que você sentia falta mesmo era daquele que não tinha barba nenhuma porque a cicatriz no rosto não deixava.
Eles são todos estilosos ou bonitos ou legais ou tudo ao mesmo tempo. Mas você quer o outro, ele, aquele lá, mesmo ele ouvindo pagode, mesmo que te digam que ele não te merece e que não é bonito ou certo o bastante pra você. Mesmo que te desafiem com clichês pra você tentar se convencer do impossível. Você quer tanto que isso te consome, você sente a falta dele como num grito mudo, você lembra tanto dele que se esquece de você. Você sente falta de você mesma. Isso não é amor. Amor é outra coisa. Porque amor não dói, amor não mata, amor não aprisiona. Amor salva.
Eu sei que é muita coisa e que não adianta fazer força pra esquecer o que você tem decorado. Mas talvez se você parasse de se sabotar toda vez que dá um passo a frente. Se você enxergasse a si mesma, se você se visse fazendo as coisas que faz. Se você soubesse o quanto é linda e entendesse que todos esses caras podem ser caras iguais ou melhores que ele, e que eles estão loucos por uma primeira chance – quando você só consegue pensar em dar uma segunda pra alguém que não tem a menor ideia do que o amor significa. Talvez, se você se ajudasse, se você tentasse, se parasse de repetir o disco de novo, de novo, de novo, de novo. Se. Talvez você conseguisse ser feliz mais uma vez.