O amor que mereço


[Você pode ler este texto ao som de Coffee and TV]

Eu quis alguém pra estender uma canga na grama e olhar estrelas, como nos filmes que se criam na minha cabeça. E, como nos filmes, dançar sem música, porque a batida de dois corações bem próximos já é canção. Eu quis alguém pra gastar noites planejando futuro. De cada um. Dos dois. Futuros que talvez nem cheguem, Eu quis alguém pra me me abraçar depois de uma viagem – tão bom voltar para o nosso lugar. Eu quis alguém pra me acompanhar em aniversários de família, porque sempre existe um momento em que a gente não se encaixa. Quis alguém compartilhando esse desajuste comigo. Eu quis alguém que me tocasse, só pra ter certeza de que eu estava ali e não ia embora. Quis surpresas quando abrisse a porta. Prazos para os passos que chegam mais cedo ou mais tarde, mas sem pressa. Quis alguém pra cochichar durante uma sessão de cinema e roçar o nariz no pescoço, enquanto o personagem gritasse na tela. Eu quis alguém bandeira-branca no meio do caos de todas as dúvidas que me mancham. Eu quis, quis mesmo, alguém que não se importasse com distância; que distância não existe quando a necessidade de olho-no-olho é combustível, e a alegria que isso traz preenche qualquer estrada. Eu quis alguém que abrisse exceções pra mim, porque sou eu, poxa. Café na cama, comida na cama, cigarro na cama; só porque sou eu. Eu quis alguém me olhando enquanto ainda durmo, daquela maneira que quando a gente espreguiça as pálpebras e percebe, não sente enjoo, só segurança. Eu quis alguém que escrevesse uma música pra mim, dizendo que sou eu e ponto, sem desfocar o amor por causa de outras possibilidades. Eu quis alguém pra tocar a campainha depois de uma briga e tudo se acalmar só da maçaneta girar. Alguém pra pegar estrada em uma sexta-feira depois de uma semaninha chata e ir parar em qualquer lugar – juro, qualquer lugar com colo. Alguém pra ficar em silêncio, porque às vezes a gente não tem nada pra dizer mesmo e a intimidade de ficar calado, sem a sensação de peso, já conforta. Eu quis aquela cerveja, porque é a minha preferida – mas não quis pedir por ela, eu quis que você se lembrasse e quisesse me fazer feliz quando eu abrisse a geladeira. Quis trançar mãos em um passeio noturno e me sentir flutuando. Eu não quis olhar para os lados, porque não tinha nada lá. Eu quis tudo o que é absolutamente natural. Nada difícil. Eu só quis um amor no eixo.

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priscila

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