Quando o amor acaba


[Você pode ler este texto ao som de Gravity da Sara Bareilles]

De repente a vida desmorona e você, que ficava na entrada da porta prum paraíso só meu, desmorona também.

As coisas não tão indo bem como eu imaginava, não se completam do mesmo jeito. Aquele sentimento todo que soltava turbilhões controlados no estômago, que contava de modo carinhoso a mesma história todos os dias, que me fazia querer entender as letras pintadas no teu corpo e te transcrever nas histórias, aquelas coisas todas meio que desabaram e eu nem sei o porquê. Não sei a partir de quando eu comecei a me afastar de você, mas sei que naquela noite que você não me ligou, eu saí por aí e revisitei o mundo. E não senti tanta falta assim de você. Aquilo doeu, sabe? Sabe quando dói porque a brecha vai deixando escorrer o sangue todo até não sobrar mais nada? Eu tava assim. Naquele dia eu larguei meus amigos num bar da Lapa às 2h43 da manhã e peguei um táxi pra casa. Desabei na cama com ajuda do Rivotril e nem te avisei que tinha chegado bem e seguro porque não tinha.

Olha, eu choro. Choro dia e noite, choro indo pro trabalho, choro tanto que outro dia uma senhora me ofereceu o lugar dela no metrô pra eu chorar escondido. Eu chorei no 422 e perdi o ponto, liguei pro escritório e falei que não ia dar pra ir naquele dia, que tava doente, sentindo umas pontadas agudas no peito e que devia ser do coração. Fui parar no ponto final e não desci do ônibus. Fui viajando de ponto final ao inicial pra ver se me encontrava na viagem e nada. Não queria chegar em casa pra não me lembrar de você, não queria trabalhar pra não me lembrar de você, não queria atender celular pra não me lembrar de você, mas não conseguia sumir, não conseguia provocar uma implosão que me devorasse em chamas e me livrasse de ter que te encarar alguma hora. Eu não suportaria a sensação de te olhar reagindo a quando eu dissesse que iria te abandonar.

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Eu tô naquela de me trancar no quarto e rever o processo. Rever o porta-retratos e batucar sentimento na porta do coração pra ver se consigo alguma explicação. Será que eu deixei a gente se perder no meu caminho casa-trabalho-amor-você-eu e não soube mais quem eu era, quem você era e o que a gente tava fazendo? Mas você não enxerga isso, não entende que o mundo mudou e continua aqui, repetindo esse ritual mecânico de me amar de verdade enquanto eu sou só dor. Tô tentando achar o erro, o começo do fim, um indício do nosso apocalipse amoroso, mas parece que a coisa implodiu da noite pro dia e naquele 22 de março eu acordei assim. Acordei assim, meu apático a você. E isso me dói tanto que você nem imagina como eu tenho pedido pro espelho pra me trazer de volta pra você.

E o pior de tudo vai ser dizer pra você e acabar com seu mundo inteiro enquanto eu me despedaço. Caco por caco perfurando meu espaço enquanto você não acredita no que eu vou dizer. Já prevejo a cena e espera aí, por que eu já tô com a mão na maçaneta? Me impede, me impede agora de deixar isso tudo, me impede porque sempre existe um momento, aquele momento em que você escolhe deixar as coisas como estão ou ir embora.

Dentro de mim, pratos se quebram. Começando pela cozinha. Vai derrubando estantes, feito vendaval imprevisto. A gente saiu de casa e eu deixei a janela aberta de propósito. A culpa é minha e enquanto você dorme, eu assisto o seu mundo se desfazer por minha causa. Tô aqui rezando pra não ser o que tô pensando porque eu não suportaria ter que deixar você ir, ter que deixar você parado numa rua pouco movimentada, debaixo de uma chuva qualquer no verão, sem abrigo ou piedade, só pra eu explicar pra mim mesmo que amores serão sempre amáveis, mas você passou e agora resta o fim.

bovo

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