Você tinha o mundo num sorriso. E foi tão fácil gostar de você que eu não entendo até agora como eu demorei tanto pra me deixar ceder. Você era sóbrio demais pros meus modos. Conduzia cada palavra pra algum lugar certo e eu ali, perdida, no meio de um bando de gente que não era você. A vida é maravilhosa, querida e eu só consegui acreditar nisso minutos depois de você. Da surpresa. Do seu rosto gentil me olhando e eu sei que você tá com medo, mas vem comigo, menina e eu não parava de tremer e tenho certeza de que você não percebia o meu nervosismo do seu lado. Mãos, braços, beijos, abraços e uma ternura desconhecida. O que eu vim fazer aqui mesmo? Continuava perdida e você me joga num labirinto. Como é que eu faço pra sair daqui com você? Achava que você só iria me confundir mais ainda, mas você está terrivelmente enganada, meu bem. Foi confusão e euforia. E eu senti vertigem.
Abri os olhos e tinha você ali. E o seu sorriso ainda era o mundo e eu já não via mais ninguém em volta. Fomos ignorados, mas será que eu conseguiria ignorar o meu estômago revirando? Tive ânsia de vômito e sei que nessas horas o seu romantismo deve ter falhado, mas fica calma que eu te levo embora ou pro banheiro, você quem sabe. Respirei fundo e você riu. Ninguém me olhou tão fundo assim nos olhos e se perdeu de mim tão rápido como você. Eu respirava fundo e tentava entender onde as minhas convicções tinham ido parar. Tá tudo bem com você e eu queria dizer que não, que eu tava sentindo umas coisas aqui dentro que fazia tempo que eu não sentia e você quer uma água? eu vou buscar, mas sei lá, você iria sumir no dia seguinte ou me aparecer com alguma coisa diferente de mim que eu deixei pra lá. E senti vertigem mais uma vez. Porque eu não esperava nada daquilo. Nada de você, nem nada de mim. E Nunca esperei tanto por alguns minutos na vida. Daí você chegou, eu tava procurando por você, fica aqui comigo, e por mim tava bom. Coração acelerado e mãos tremendo e o seu sorriso continuava ali. E foi o vem cá mais doce que eu já ouvi de alguém. Pela primeira vez, eu queria ser cuidada ao invés de cuidar de alguém. Ao invés de evitar alguém que me soltasse dum pulo de Bungee Jump.
Você sabia que tinha sido o primeiro desses, desses caras que mexem comigo da forma que mexeu, desses pra quem eu escrevo num caderninho de capa roxa guardado na último gaveta da cabeceira. No exato instante em que me deixou em casa você soube. Afrouxou o cinto de segurança pra me dar boa noite e um beijo. E insegurança. Sorriu como se pudesse fazer sol de noite. Você ainda tem o sorriso no mundo. Será que eu te vejo dia desses?, por mim você nem tirava os olhos de mim, rapaz. E já não era mais confusão nem euforia. Eu sorri de um jeito que nunca tinha sorrido antes pro espelho assim que você arrancou com o carro. E nem precisava de um espelho pra constatar isso. Pedi desculpas por ser tão estrambelhada e eu podia sentir você achando graça de mim de longe – eu mesma sentia.
Dormi com medo de pensar demais em você, pensar demais em toda essa correria confusa e inesperada que sacudiu meu mundo de um minuto pro outro, pensar demais em como eu lidaria com isso e essa era a primeira vez em que tive medo de alguma certeza e prometi pra mim mesma que não queria que você ficasse na minha cabeça. Rezei – nunca rezava – e depositei toda a minha fé num pedido controverso: eu não posso querer esse rapaz, meu Deus. Não daquele jeito. Com um sorriso do tamanho do mundo. Eu sairia de mãos vazias, tendo que compartilhar o mundo no seu rosto com os outros. Eu pedi – nunca pedia – pra não sonhar com você.
Impossível.
Acordei sorrindo o mundo.
Foi emoção e poesia. E eu não senti mais vertigem.