[Você pode ler este texto ao som de Vira-Lata]
Minha amiga, ele não gosta de você. Gosta da cama, do colo, das marcas que deixa. De como a pele cora, o sexo molha, a unha arranha. Da respiração ofegante, do gosto das noites. É louco pelo perfume que você exala de madrugadas, quando a razão não toma conta. Mais nada. Ele não se importa, minha amiga. Só sabe ver o espelho. É veneno pro seu coração.
Ele se arrasta que até sangra, quando te precisa. Mas é de mentira. Ele te persegue como os rios, o mar. Parece devotado. Você acorda com o celular entulhado de mensagens sugerindo verdade. Mas, minha amiga, não é nem desprezo. É tudo falso, como maquiagem. É perecível o interesse dele. O que se mostra amor é só vontade. É capricho mesmo.
Ele te convence de um gostar intenso e talvez solte isso entre dentes. Ao lado dele, o ar tem música. A alegria pulsa. Espalha encanto pelas ruas. Você é a única, diz ele. Dela não gosto. Naquela não vejo beleza. Só você compensa.
Mas quando a lua se despede, ele foge junto. Deixa reticências. Ele não fecha a casa. Ele nunca interrompe vocês. Apenas pausa. A saudade aumenta com o silêncio, eu te entendo. Mas esse homem sempre escapa. É areia nos dedos. O que sobra é abstinência.
Nos intervalos dele, a vida segue apática. A música não tem estímulo. O olhar quase dorme. A energia desaparece quando ele some. Você se entrega. Mas dias assim não são raridades, você sabe. É o que traduz você e ele.
Quando o sorriso começa a voltar das férias, também ele volta. Um play no seu coração. Seria dolorido, se não apagasse com velocidade a tristeza que ele deixa toda vez que parte. Aí você injeta mais um pouco dele, porque sem ele é descontrole extremo.
O farelo que ele oferece, oxigênio.
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