Periférico.


Foi você quem me achou primeiro. E tudo começou numa fila estranha com gente que eu nem fiz questão de me lembrar. Sem fila do pão ou canção romântica que tecesse algum elo ou alguma coisa do tipo. A gente se fez num sorriso e num olhar. Aliás, o verde dos seus olhos me coloriu. E coloriu aquela cidade inteira. Você guardou meu nome e me coloriu também, não foi?

Eu nunca tirei os meus olhos de você. Depois que a gente aconteceu, os outros fatos do mundo eram muito relativos. Tudo passava meio borrado, meio sem graça. Tudo passava do jeito que a minha visão periférica me deixava perceber. O seu jeito de ver o mundo me transpassava. Fosse em inglês ou espanhol, da forma comunista e bonita com que você queria mudar o mundo ou exagerado feito Cazuza, eu sabia que você era pra mim. Eu sempre soube. A sua família passou como um borrão, as nossas viagens, o filme de cinema, aquela peça do teatro e outras tantas coisas passaram como um borrão, e eu fico na dúvida até hoje se elas aconteceram como a gente. Não me leve a mal, meu bem. É que eu olhava pro seu verde o tempo todo. Pra esse verde que me coloriu tanto e que fez ver o resto de rabo de olho. Os seus olhos viraram meu centro de mundo.

Declaração de amor nenhuma vai explicar como o mundo para toda vez que eu fixo os meus olhos nos seus. É aquela coisa de se perder por um minuto e por um mundo. Dá pra ouvir o descontrole da sua respiração, a batida melódica de tudo o que deveria ter ritmo dentro de mim e olhar pelos lados sem tirar os olhos de você. Nessas horas eu me pergunto se achei um motivo único para amar você ou se foram vários. Se foi porque você me lembrava um contra-tempo que transforma segundos em dias ou se foi porque eu me encontro e me vejo mais feliz a cada pequeno esboço de sorriso que eu consigo tirar do seu rosto. E o nosso amor virou periférico desde o primeiro minuto que a gente se viu.

O nosso amor é periférico porque todo o resto do mundo passa em volta dele. O centro dos seus olhos e o resto. Eu e você e o resto. Vão dizer que é bobagem e nos chamar de bobos. Vão dizer que ainda nem tem tanto tempo e nos chamar de apressadinhos. Vão dizer que é miragem minha e que esse verde todo nunca existiu. Mas lembra que você me coloriu de uma vez por todas? Então pra mim essa cor existe, meu bem.

(Essa é a história da Alina e do Thiago)

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