[Você pode ler este texto ao som de Metronomy – Not Made For Love]
Você nunca gostou dessa coisa de escritor que eu tinha, confessa. Sempre disse que isso me deixava com um ar arrogante e fantasioso demais. E sempre me disse que as minhas leituras beiravam a aleatoriedade na forma com que as conduzia e refletia sobre elas. Acontece que ontem eu descobri a nossa história por meio de uma dessas leituras que eu vejo por aí. Era algo da Tati Bernardi e falava sobre como as nossas exatidões eram tão perfeitas um para o outro, mas não eram feitas para serem somadas. Fiquei calado por uns cinco ou dez minutos depois que li aquilo. Não é por mal. É só que. Assim. Eu sou meio atraído por você de uma forma que nem eu sei explicar.
Sem vergonha nenhuma na cara. É o que todo mundo me diz e eu mesmo repito várias vezes. Meu Deus! Como é que pode uma pessoa pensar em insistir em algo que já deu errado uma, duas e muitas vezes da pior forma possível? Isso já deve ter deixado de ser amor há muito tempo e se tornou obsessão. Eu já escrevi para você em forma de carta, já descrevi nossos diálogos, já te romantizei e já te pintei como a belíssima sacana que você é. A gente já brigou de ficar anos-luz sem se ver. E nos odiamos com tanta força que os outros podiam sentir a repulsa ecoando nas nossas vozes quando falávamos do outro. Cacete! O problema é que toda mulher que chega perto de mim é desinteressante quando comparada a você. A gente tem essa intimidade gostosa, essa coisa de rir quando tá bem, de mostrar pro outro que superou e que não precisa mais. E, na verdade, a gente até superou. Mas eu sou mesquinho o suficiente para olhar por trás do ombro só para saber sobre você. Furada.
Eu não sei o que eu vejo em você. E isso a Tati Bernardi fala sobre ela. Mas eu vou além disso. Eu não sei o que eu vejo, mas ao mesmo tempo eu tenho sérios palpites das coisas que me prendem a você. Ao contrário do que ela acha, nós não somos exatamente o que o outro queria. Você não faz meu tipo e eu não sou nem um pouco interessante. Mas a gente se pega no sentido atraído, flagrado, coisa de pele que vai além da epiderme. A nossa falta é que nos completa de alguma forma. Só que se você somar falta com falta resulta em nada. Exatamente! Nós éramos nada juntos e sozinhos nós éramos apenas falta. Ser prolixo sempre foi uma das minhas melhores qualidades, eu sei. Portanto, ignore as partes desse texto que você não conseguir entender. Eu consigo entender o porquê de lembrar você nas horas mais impróprias e ainda assim ter coragem (ou cara de pau) de te enviar uma mensagem de celular com palavras desconexas e sílabas engolidas pela minha pressa. Você é o meu lugar comum na literatura e eu sou o seu clichê repetitivo. Simples assim.
De verdade, eu não posso te deixar ir embora assim, do nada. Assim, pela quinta ou sexta vez. Já até perdi as contas de quantas vezes entramos num consenso ao atirar pratos de vidro no outro e de quantas vezes a gente se viu retomando esse mesmo erro. O nosso erro, como um xodó pra gente. Eu não posso deixar você ir embora porque eu vivo de recortes da gente. Todas as fotografias foram recortadas e guardei os sorrisos. Por mais recentes que sejam os tapas, os arranhões, os xingamentos e aquele olhar de “você foi a pior coisa que aconteceu na minha vida”, eu guardo os sorrisos. Acho que é isso que me mantém aqui. Essa minha pequena obsessão de achar que não vai haver tragédia romântica assim com mais ninguém. Eu não dispenso um bom drama quando a sua personagem é instigante.
Eu não posso deixar você ir embora. Não é por amor. Longe de mim. É porque eu sinto mais falta sem você do que com você aqui. Ruim com você, mas pior sem. Sem sentido. Sem aviso. Sem nada que justifique essa manha de sempre ligar e jogar pesado para te fazer voltar aqui – e concluir no minuto seguinte que a gente não dá certo junto, pela milésima vez. Eu não posso deixar você ir embora porque eu quero insistir nisso só mais uma vez para ver se, com sorte, a gente consegue levar o lado bom por mais tempo que o ruim. Eu não posso deixar você ir embora. Por mil motivos e por mais nenhum. Pela minha lógica maluca e destrambelhada de quem não tem argumento nenhum e escreveu um texto assim sem saber como ia colocar ponto final. Eu não posso deixar você ir embora. E é por isso que eu termino esse texto com reticências…