(Ao som de “Love don’t live here anymore” )
A gente não vai mais se ver. Nunca mais. Essa é a nossa verdade a partir de agora.
E daí que eu te amo, que eu não sei viver sem você pra rir das minhas bobagens? E daí que eu te prometi nunca mais olhar pra outra mulher e cumpro essa promessa até hoje, mesmo que involuntariamente? E daí?
Lembra de como a gente era feliz? Lembra de como a gente é feliz. Como tudo isso chegou até aqui, nessa situação na qual a gente se encontra? Eu já não consigo mais olhar pra você e encontrar tudo aquilo que um dia eu amei. E você já não consegue mais ver em mim aquele guri de olhar esquecido que vivia de headphone e skate pelas ruas do seu quarteirão. Eu não entendo mais porque eu achava graça da sua boca meio rosada e das suas bochechas avermelhadas. Você não entende mais por que gostava tanto de ouvir “She loves you” enquanto me beijava lentamente quando a gente acordava junto. Meu amor, quando a gente começa a procurar explicação para o que não nos encanta mais significa que a gente quer encontrar justificativa pra falta de felicidade. Felicidade é emoção que não se aprende a lidar, nem tem receita certa. É piegas ou clichê o que eu digo aqui, mas no momento em que eu procuro justificar o que eu sinto sem sentir, eu apenas estou adiando o que nós dois sabemos que está acontecendo.
Pára e pensa comigo. Quantas vezes nesses últimos meses a gente conseguiu manter uma conversa por mais de 20 minutos sem deixar aquele silêncio constrangedor no meio? E quantas vezes a gente interrompeu um beijo por estar cansado demais do gosto do outro? Sabe, eu realmente acho que a gente tem que deixar isso acabar. Por mais que eu tente, que você tente, que nós tentemos… Vai acontecer da gente estragar tudo o que conseguimos construir até agora. E não são as nossas brigas, a falta de saudades, a falta de vontade que vão fazer isso: seremos nós, se não aceitarmos que acabou.
Foi amor, eu sei que foi. Estou vendo em você, bem aqui na minha frente que foi amor. Foi profundo, foi bonito, foi intenso. Foi amor. Mas acabou. E a gente chegou bem perto, amor. Acho que essa foi a nossa maior vitória. Ninguém pode dizer que não deu certo. Deu certo, mas acabou.
É engraçado, sabe. Olhar você nessa sala vazia enquanto vai colocando tudo o que é seu nas caixas. Eu tô deixando cair algumas lágrimas aqui e é estranho te ver indo embora. A gente construiu uma vida juntos. E uma vida não se desata assim, do nada. Por isso que eu digo: a nossa vida não vai ser jogada fora, ela vai ser guardada. Coloca numa dessas suas caixas cheias de memórias e coisas boas e leva com você. Um dia pode ser que a gente abra a caixa e se divirta revendo os melhores momentos de nós. Além disso, pode servir pra sentir aquela saudade boa. Aquela saudade do sentimento, de quem nós fomos um para o outro e de como a gente cresceu junto, amor. O nosso amor valeu a pena.
Agora vem aqui. Não chora, amor. Eu também estou com medo do que vai ser daqui pra frente. Você sabe que eu te amei e que isso nunca vai mudar. E o pra sempre sempre acaba. Eu sei que você vai lembrar de mim quando vir algum livro de ficção científica, assim como eu vou lembrar de você sempre que tocar alguma música do Coldplay. Eu sei que daqui pra frente vai ser estranho. Mas eu aposto que a gente vai encontrar novas mãos pra nos guiar.
Vem cá, eu não tenho tristeza. Nem você, eu sei. Essa decisão foi importante e eu estou feliz por nós. Por tudo o que a gente conseguiu fazer junto. Por tudo o que eu cresci contigo. Você me tornou esse cara aqui, meio babaca, meio interessante. Mas, acima de tudo, você me tornou alguém melhor. E tenho certeza que consegui te ajudar em algo. E agora, quando eu olho pra você pegando as chaves do carro e segurando a última das caixas com uma das mãos, eu só consigo enxergar gratidão e esperança.
Mas antes de fechar a porta, vem cá. Me beija. Esquece o tempo, o todo, o mundo pela última vez. Como se fosse nosso primeiro beijo. Nosso último beijo de despedida. Me beija. E pode deixar que eu fecho a porta depois.