Eu sou um chato musical. Daqueles bem chatos que cantarolam fora de ritmo mesmo sem saber a letra de qualquer música que tenha ouvido e gostado.
Pior ainda. Eu sou o chato com trilha sonora. Aquele tipo que não consegue passar um momento na vida sem atribuir a ele uma música. E olha que são muitos anos e muitas faixas.
Comecei naquela fase da vida meio Forfun e meio Elis Regina. Quando uma história de verão qualquer não podia deixar de me lembrar como somos parecidos com nossos pais. Tive aquela coisa musical de ficar entre os extremos do bom e do ruim. Eu tinha apenas oito anos quando conheci Cueio Limão. Mentira. Já deveria ter lá meus 14 anos. E não é que me envergonho de ter dito isso ?! Mas isso foi só depois da fase inevitável de ver o mundo dando voltas alguns dias atrás. Essa fase meio CPM 22 sendo o revoltadinho pop que acha que todo mundo curte o que ele curte.
Fui crescendo e levando comigo as minhas bandinhas de garagem preferidas. E meu MPB de sábado à noite em casa vendo algum DVD. Me especializei em dedicar músicas do Legião Urbana para os meus desamores. Era um tal de “tire suas mãos de mim” daqui, “agora está tão longe” dali. Era quase que automático dedicar essas canções. Daí passei para a minha fase de “não sou mais um garoto que não sabe dizer não”. E conheci o Leoni nessa época. Virou meu amigo de fossa, de alegria, de imaginação tortuosa sobre fatos que nunca aconteceram. Até Cazuza esbarrou na gente nesse meio tempo. Não é que eu não os conhecesse, mas só fui pegar intimidade com os tons de voz depois de enfrentar o maior porre musical da minha vida.
De lá pra cá, não paro quieto em nenhuma soundtrack. Cassia Eller e Nando Reis que o digam. E fui esquecendo a rima que não é cara, o tempo que estava lá fora. Roberta Sá bem sabe. Meu problema com vozes e letras aconteceu num folhetim qualquer que me mostrou como Chico Buarque poderia ser adorável. Caetano Veloso se juntou a nós. Alegria, alegria. Ainda aqui, alguns Hermanos que não tem nada de argentinos me conheceram. E parece que decidiram dedicar toda a sua obra fonográfica à minha vida e minhas passagens; aos meus anseios e loucuras. Eu era um cara estranho nessa época, conheci pessoas magníficas como o velho e o moço. Fiz retrato pra Iaiá e descobri que ninguém é mais sentimental do que eu. Mas essa foi a minha estadia permanente pelo Brasil, que vira e mexe sofre alteração quando eu pego um avião e vou para as terras desconhecidas.
A Inglaterra bem me conhece com seu indie remoto e minha fase meio underground e cult-bacaninha. Colour my life with the chaos of trouble. Mas só se for pra citar meus preferidos City and Colour e sua presença na minha vida. Foram inúmeras rodas de violão e encontros entre eles, One Republic, Maroon 5 e outros amigos nossos. Uma escada, um violão, uma vontade e um mundo inteiro em minhas mãos. John Mayer chegou um pouco mais tarde, mas marcou presença. Me mostrou que o corpo dela é o país das maravilhas. E me fez entender o sentido de cair em queda livre. É um dos meus melhores amigos até hoje, acompanhou a fase mais legal.
Acontece que esse resumo da trilha que eu percorri é muito pequeno diante de cada canção que eu vivi. Ouvir era me pedir pra ignorar o sentido daquele vento no rosto, daquela água batendo na janela, daquela solzão lá fora. Preferi viver cada música como se não houvesse amanhã. De tudo, sei que fiz bem. Porque cada detalhe maravilhosamente pequeno e importante do que vivi está ao alcance de apenas um play.
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