Era uma viagem de final de ano e você só iria passar uma semana fora antes de voltar àquela praia de veraneio em que todos os seus amigos estão. Como você adora trajetos de viagens, aceitou, mas não conseguia nem vislumbrar como iria ser, e, no caminho, ia só e simplesmente analisando as paisagens. Vendo as árvores balançarem de acordo com a intensidade dos ventos, as andorinhas passarem, o céu mudar de cor de acordo com o horário do dia e as músicas seguindo no seu iPod de um jeito lento e rápido ao mesmo tempo.
Chegando ao tão desconhecido destino, você resolveu ficar em casa nos três primeiros dias, não conhecia ninguém ali e acreditava piamente que provavelmente iria continuar sem conhecer. Se, por um mero acaso do destino, você viesse a sair de casa, já era previamente imaginado que ninguém seria interessante o bastante para te tirar do conforto.
Mas são justamente nessas temporadas que o mero acaso do destino resolve acontecer, só porque precisa comprovar essas coisas que dizem por ai: não se mexe com “o que é pra ser”. E então a vida te pega pelo braço e te arranca do que você vinha chamando de agradável e estável, mostrando que depois disso tem algo tão bom quanto que é chamado de incrível e inesperado.
Era o fim de um ciclo e começo de outro geralmente marcado por grandes lembranças. E, depois de tudo, você já sabe que vai entender melhor e passar a dizer com mais frequência que as melhores coisas acontecem quando nos resgatam de nós mesmos e quando de algo em que não se aguarda nada sai um conto pra muitas rodas de conversas.
Então, a atmosfera começa a mudar na noite do quarto dia, quando, obrigada por compromissos sociais você teve que distribuir olás por ai. No entanto, ao término da saga de comprimentos, sua primeira atitude foi puxar uma cadeira, sentar-se e analisar as articulações alheias. Não demorou muito e você o viu… Aquela pessoa que destoava um pouco das demais, tinha um olhar mais sério, mesmo quando brincava com os amigos, não sorria direito, mesmo quando gargalhava, não ficava circulando pelo ambiente no intuito de chamar atenção como a grande maioria fazia, pelo contrário, tinha um lugar marcado, do lado direito, encostado em uma parede metade branca/metade amarela, e, quem quisesse falar e puxar assunto que fosse até lá.
Ele também te viu. E o que te prendeu nele foi o fato de você também tê-lo prendido. Não bastou que ele tivesse somente te visto, ele permanecia te vendo. Os segundos aceleraram, os minutos passaram num piscar de olhos e, de repente, horas já tinham flutuado no tempo. Você só se deu conta quando a atração principal da noite fechou as cortinas antes da marcação prevista e foi embora tão rápido quanto veio, mas não sem antes deixar alguns desvios. Ao entrar no carro, ele te chamou. Sem entender muito bem, você chegou perto:
– Sim?
– Você estará por aqui amanhã?
– Não sei…
– Espero.
Ele se foi. Vocês se encontraram no outro dia e o que se sucedeu depois disso você já pode imaginar e experienciar à luz de sua própria história…
No dia da despedida “Os olhos continuaram a dizer cousas infinitas, as palavras de boca é que nem tentavam sair, tornavam ao coração caladas como vinham”.
“As andorinhas vinham em sentido contrário, ou não seriam as mesmas. Nós é que éramos os mesmos, ali ficamos somando as nossas ilusões, os nossos temores, começando já a somar as nossas saudades”.
–
Levemente inspirado em trechos aleatórios de Dom Casmurro (Machado de Assis).
Você também pode gostar desse assunto. Assista ao vídeo abaixo: