Amor não é aquilo que eu sempre achei que fosse


 

Antes de começar a ler o texto, dá um play nesse vídeo. 🙂

Eu passei boa parte da vida querendo viver um amorzinho desses que mostraram pra gente na TV e nas histórias que a gente leu quando era criança. Acho que uma das coisas que me fazia ter essa fixação por esse tal amor era o sentimento de plenitude que me acompanhava quando eu estava apaixonado ou em uma relação.

Por um tempo considerável, eu acreditei que amor era a união de duas pessoas num encontro mágico. Aquela coisa das borboletas no estômago que dava azia, má digestão e tudo aquilo que só um Sonrisal vai resolver. Me enganei um pouco. O nome disso é ressaca e, se você já passou dos vinte e poucos anos, sinto te dizer que vai durar de um a três dias e não vai ser nada legal. Também percebi que amor não é aquela suadeira nas mãos, nervosismo pra falar, falta de tato social e tudo mais. Podem ser apenas sinais de uma crise de ansiedade. E isso também não é nada legal.

Enfim, todos os sinais físicos e psicológicos que eu achava que representavam a paixão, o afeto e o amor não eram exatamente como nos filmes que via. Quando eles existiam, eram sentimentos bons e gostosos. O problema é que eles iam e vinham junto com a pessoa que fazia parte desse encontro mágico. Também comecei a achar muito injusto que a gente só poderia sentir essa sensação de plenitude quando encontrasse alguém. Por que o amor só pode ser sentido e materializado quando ele está acontecendo? O que acontece com ele quando ele “não está sendo usado”?

Talvez a gente é que tenha entendido errado a vida inteira.

Amor não é um sentimento que o outro traz, mas é um sentimento que a gente carrega por dentro. É tudo aquilo que você tem aí no peito e está disposto a doar a alguém. É todo o sentimento de plenitude que faz com que a gente se sinta bobos, desleixados, cagando e andando pro mundo porque a gente encontrou em quem materializar esse sentimento. Amor não acontece porque alguém chegou na nossa vida, ele sempre existiu.

Se você parar pra pensar bem, você já deve ter tido momentos únicos de amor-próprio. A felicidade de ver um pôr-do-sol num parque rodeado de árvores em junho. O sentimento bonito de ver seus pais ou seus irmãos felizes por alguma razão. O sorriso na cara da sua melhor amiga por conta de alguma surpresa que você arranjou. A delícia de sentar com vinho e música boa no alto de algum prédio, de onde dá pra sentir o vento e ver a cidade inteira. É o amor que mora aí dentro se materializando em situações do dia a dia. Da mesma maneira, ele se projeta em alguém.

Não é uma pessoa que cria esse amor todo, ela só ajuda a despertá-lo. E pensar assim muda um pouquinho a nossa cabeça dependente de alguém na hora de sentir isso. Porque a gente não precisa de ninguém (no sentido de vínculo afetivo no sentido amoroso) para validar o amor que a gente sente pela gente.

Perceber isso faz com que a coisa mude: você passa a amar você para amar alguém de um jeito livre. Você pode encontrar quem te faça um pouco mais feliz por partilhar do amor que você sente. Assim como, do mesmo jeito, você pode se sentir amado sem ter um par romântico ou coisa do tipo. Se sentir amado pelas experiências que a vida traz, pelas viagens, pelos embarques, pelo aeroporto, pelo nascimento de um sobrinho, por correr na praia, por ver a neve, por pular de bungee jump, por saborear um picolé num dia quente, por escrever uma carta para uma amiga distante etc.

Por entender que o amor que faz a gente feliz é nosso, é a gente, e ele mora aqui dentro e nunca, jamais, em tempo algum, você vai encontrá-lo lá fora. Você só deixa esse amor todo sair para passear, dar uma volta no quintal, na rua, nas avenidas. Quem sabe, assim, ele encontre um outro amor tão bacana quanto ele para partilhar a sua felicidade.

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