Você não precisa superar ninguém


[Você pode ler este texto ao som de Creep]

Eu já tive alguns relacionamentos. Do alto dos meus 25 anos, eu ainda não posso dizer que eu sei tudo sobre a vida e sobre relacionamentos. Não passei por uma série de coisas. Não passei por casamentos e filhos, coisas que engrossam o caldo e tornam as coisas mais complexas. Não passei por mudanças de países ou continentes. Não passei por abandonos graves nem nada do tipo. Mas passei por algumas coisas que me marcaram. E uma delas me chamou muito a atenção: a forma como eu via a morte de um amor.

No meu segundo livro, Depois do Fim, eu resolvi escrever sobre a trajetória do fim de um amor. Sobre como a gente se sente quando está no fim de um relacionamento e tudo que a gente passa quando ele acaba. O luto, as lembranças do outro, ter que se acostumar de novo com a vida, descobrir que pegamos manias e costumes da outra pessoa, perceber que alimentamos memórias conjuntas, ter recaídas, ver sonhos a dois tendo seu fim e aquela briga enorme de querer tirar a pessoa de dentro de você… Tudo isso me fez entrar em uma busca um pouco dolorosa para mim: uma viagem pra dentro na tentativa de entender essa coisa toda de fim.

Percebi muita coisa. Percebi que a gente tenta se apegar a algumas exigências. A gente exige que o outro saia desesperadamente de dentro da gente. O mais rápido possível. Porque acabou, né? Ele não merece morar mais ali. Na verdade, a gente é que não quer ter que lidar com a realidade: ainda existe amor dentro da gente, mas a pessoa por quem esse amor se materializa não nos quer mais. Ela já foi embora. Lide com essa dor.

Depois, existe a cobrança pelo esquecimento. Por encontrar outra pessoa. A substituição é a maneira mais eficaz de curar o buraco que deixaram, é o que dizem. Mas eu não acho. Acho que é outra forma de cobrar demais de você mesmo. Para pra pensar. Nesse momento, você tá machucado, tentando entender tudo o que tá acontecendo. Você não deixou de gostar daquela pessoa automaticamente e você tem que lidar com o fato de que ela foi embora. Isso dói. Ponto final. Você já precisa aprender a lidar com essa for, você precisa aprender a se abraçar, a se curar, a regenerar as coisas aí dentro. E ainda existe um mundo inteiro dizendo que você também precisa, ao mesmo tempo, se forçar a esquecê-lo. Por quê? Pra quê ter dois trabalhos ao mesmo tempo? Não seria melhor simplesmente lidar com você agora?

Porque eu acho que a gente se cobra demais. E, no fundo, a gente não esquece ninguém. A gente só vai em frente. Não é como se nós passássemos 100% por isso como se nada tivesse acontecido. Não. A gente se recupera e vai em frente. Com todas as marcas que a experiência trouxe. O amor acabou. O relacionamento também. Até a hora em que a gente estiver bem o suficiente pra encontrar um novo amor. Porque um novo amor não chega na hora certa ou no momento em que você está melhor preparado.

Ele só chega.

Talvez você não consiga vê-lo ou abraçá-lo. Talvez você abra mão dele porque não é a sua hora certa. Todo mundo faz o que dá quando está se recuperando, calma lá. Mas o melhor que você pode fazer, seja no fim ou no início de um relacionamento, é cuidar de você mesmo. É cuidar da única pessoa que vai sempre ficar depois de cada um dos amores da sua vida.

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