Meu adeus definitivo pra 2017


Sobre as densidades e resiliências do meu ano

Não é a toa que a palavra retrospectiva rima com expectativa. Dentre os seus vários significados, expectativa nada mais é que ter esperanças, sejam elas para que promessas sejam cumpridas, metas sejam alcançadas, sonhos sejam realizados. Retrospectar é expor os resultados, sejam eles bons ou ruins. Penso que não existiria retrospectiva sem as perigosas expectativas.

Pensar nos acontecimentos dos últimos 12 meses pode me levar a ter sentimentos bons e lembranças ruins ou vice-versa.

2017 foi um ano confuso, quiçá estranho. Cheio de altos e baixos. Perdas e ganhos. Entre um eita e outro eu ri de nervosa, mas logo em seguida consegui sorrir aliviada. Ainda bem que eu sou de humanas e não consigo contar o tanto de papel de trouxa que eu fiz nesses 365 dias. Meu ano não foi um filme, mas vou dividi-lo em três atos.

O primeiro ato do meu ano foi cheio de surpresas e oportunidades. Bem no início do ano fui convidada para ser colunista do Site Superela. Lembro-me do meu medo e espanto, mas aceitei e já se foram vários textos escritos pra lá. Voltei a trabalhar com o que eu amo e tive oportunidades incríveis com trabalhos acadêmicos. Dentre essas oportunidades, não posso deixar de agradecer a uma entrevistada que com sua história de vida conseguiu quebrar qualquer barreira ou medo que existia em mim, e me fez sentir orgulho de ser negra e a partir dai me empoderar mais e mais.

Eu não sou Clarice Lispector, mas em determinado momento precisei ter uma coragem absurda. Coragem para defender o que acredito. Coragem para lutar por justiça, mesmo tendo plena consciência de que aqui, no Brasil, a mesma seja para poucos. E foi exatamente ai, no defender o que acredito que vi pessoas distanciando de mim. Não as julgo, (tento, pelo menos), sempre ouvi dizer que só permanece o que é verdadeiro. Se partiram é porque tinha que ser assim. Relações unilaterais não me interessam mais. Em contrapartida, pessoas que estavam afastadas e que eu gosto bastante reaproximaram.

Além disso, não posso me esquecer das pessoas maravilhosas que conheci. Cada guria que morou comigo, com o seu mundo e suas histórias, me ensinou a ser uma pessoa mais tolerante. Entre brigas e gargalhadas também houve choros, porres, conselhos, colos. Houve o amor mais puro que existe. O amor por uma felina que chegou para distrair minhas tardes e me conquistou totalmente. De quebra, a dona dela também ganhou um espacinho no meu coração. Mesmo com toda convergência de opiniões e todas as diferenças conseguimos construir uma amizade baseada no respeito mútuo. E confesso que a convivência diária será uma das coisas que mais me farão falta em 2018.

A aquariana mais diferente de mim, efusiva, extravagante, sonhadora e ao mesmo tempo delicada, conseguiu me fazer acreditar em amanhãs ensolarados quando meus dias estavam nublados. Teve também a negrinha mais good vibes que com um simples olhar ou sorriso conseguia me tranquilizar e energizar. Ô guria da energia boa, gratidão sempre, por tudo.

Entre uma semana e outra, um trabalho e outro, houve momentos em que desesperei, em que a minha memória falhou, meu coração disparou, e meus sentidos se perderam por segundos ou minutos. E eu odeio me lembrar disso e de como me sinto vulnerável quando acontece. Mas tenho tentado lidar com o transtorno de ansiedade de uma maneira mais leve.

Entre um golpe e outro me vi desacredita num país melhor. Confesso que ainda desacredito, mas não deixo de lutar com as armas que possuo. Não deixo de tentar desembaçar visões deturpadas que a grande mídia faz a maioria ter. Se os meus “inimigos” estão no poder, só me resta não desistir.

O segundo ato do meu ano começou tranquilo e ao mesmo tempo embaçado. Me senti perdida e excluída várias vezes, aí um certo anjo disfarçado de amigo sempre vinha exaltar minhas qualidades.
Eu cometi erros idiotas. Os que me arrependi já pedi desculpas. Mas me arrependendo ou não, cada erro me trouxe uma lição a moda antiga – com palmatória e ajoelhar no milho.

Entre uma festa e outra, que várias vezes ia para fugir dos meus pensamentos, me vi envolvida em relações líquidas, algo que sempre fui contra e por isso decidi parar. Conheci uma pessoa muito especial, que me fazia bem mas que está vivendo um momento muito diferente de vida. Ele queria assumir namoro e no momento o meu coração não está livre totalmente e preciso guardar minha energia.

Com isso vi meu ego entrou em briga com o meu id e superego e comecei a refletir. Nessas reflexões percebi que responsabilidade emocional é essencial e a partir dai prezo pela mesma. Como cada escolha tem uma consequência, talvez eu tenha perdido chances de deixar pessoas bacanas permanecerem na minha vida, mas também deixei outras livres para irem embora.

Confesso que há uma pequena ferida aberta aqui. É difícil aceitar que as pessoas são passageiras nesse trem chamado vida. É difícil acreditar que a amizade que diziam sentir por mim acabou. Mas o tempo, o dono da razão, logo trará conforto para o meu coração.

Comecei novos projetos e perdi a vontade e a esperança várias vezes, mas sempre que isso acontecia, uma mãe disfarçada de chefe me dava bronca e me fazia enxergar outro viés e não mais desistir. Eita mulher que me inspira e que eu amo.

Tive a oportunidade de realizar um sonho: publicar um texto no Entre todas as Coisas e além disso ser convidada para ser colunista. Agradeço ao Daniel Bovolento pelo convite e oportunidade, mesmo que meu eu lírico não esteja muito produtivo. Agradeço ao Fabrício Carpinejar por todas as dicas literárias e conselhos que me deu.

Como a minha memória está cada vez mais falha, certamente deixei de citar várias coisas do segundo ato, então prosseguirei.

O terceiro ato do meu ano veio com notícias bombas, esperanças vazias, choro escondido no quarto, choro alto na multidão. Uma doença que já mudou toda a minha percepção de mundo e que ativou o meu medo em nível máximo. É difícil ver quem mais amamos sentindo dores absurdas, fazendo tratamentos agressivos e se sentir impotente, só podendo torcer para que ela aguente tudo o que virá.

Com isso, nem sei o que esperar de 2018, além de fé, esperança, foco, determinação e uma dose de empatia. Porque sem ela, tudo ficará mais difícil ainda. Só peço que 2018 não me maltrate, que me deixe forte para que eu aguente todas as porradas que estão por vir. Obrigada a todas as pessoas que fizeram de 2017 um ano inesquecível e empoderador. Desejo que o 2018 seja realmente um ano novo na vida de vocês, e não só no calendário. Carpe Diem.

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