Se relacionar em 2017 é um teste de resistência psicológica


Pesquisas apontam que, se você acha que o maior mal de estar solteiro é ficar sozinho, isso prova que você não é um solteiro bem informado. Porque meu amigo, o pior mesmo é conhecer pessoas. Vem comigo que chegaremos lá.

Sempre estranhei quem termina o namoro e reclama da falta de companhia pra ver Netflix ou o fim das noites dormindo conchinha. Nada contra ver Netflix acompanhado, até tenho amigos que fazem isso. Mas poder decidir minha própria programação e não ter alguém me perguntando tudo o que aconteceu nos últimos 30 minutos de filme porque dormiu, me parece mais uma vitória do que uma derrota. Quanto à conchinha, bem… Dessa sinto muita falta mesmo porque as palavras são de Princesa Elsa, mas o coração é de mocinha.

Em todo caso, pra mim, o maior desafio depois que terminamos um relacionamento é o processo de começar outro, a tal da prospecção, mais conhecida como fase de dor e sofrimento.

Primeiro tabu a ser quebrado aqui: entenda como relacionamento qualquer ato de se relacionar com outro ser humano, homo sapiens, que às vezes não é nem tão humano e nem tão “sapiens” como esperamos. Você não precisa namorar ou casar para estar em um relacionamento, ok? Mas experimente dizer “nosso relacionamento” para alguém com quem você só está ficando? Xingar a mãe causaria menos espanto.

Afinando essa ideia, parto do princípio de que a união entre duas pessoas que se pegam caracteriza a formação de um casal. Se vocês andam em dois e não são (a) parentes, (b) colegas de trabalho ou (c) amigos, ou são um casal ou uma dupla sertaneja e precisam lançar um single. Mas experimente dizer “somos um casal” para alguém com quem você está só ficando? Anunciar a terceira guerra mundial causaria menos espanto.

E quando falo aqui de alguém com quem “estamos ficando”, estou falando de um nível evoluidíssimo de relacionamento. Acredite ou não (você pessoa que tem um alguém mais ou menos pra chamar de seu), “ficar ficando” com alguém é um novo status de relacionamento dificílimo de alcançar. Geralmente as pessoas desistem de chegar nele por motivos que a gente nunca entende quais são e que geralmente não nos comunicam também.

Estão entendendo onde quero chegar? Se relacionar com alguém nos dias de hoje exige tanto preparo psicológico que 90% das pessoas que conheço dobram as sessões de terapia entre um crush e outro. É sério, não ri.

Além dos nossos medos e da nossa bagagem, temos que lidar com os medos e bagagens dos outros. Além das nossas inseguranças inatas, temos que encarar a insegurança do outro que nunca sabemos se é de fato insegurança ou se é desinteresse mesmo. Também temos que saber a hora certa de perguntar coisas simples, mas que causam uma tela azul no cérebro de quem é questionado, como se tivéssemos perguntado o sentido da vida, do universo e tudo mais.

Mas espere, ainda tem mais! Depois de certa idade, todo mundo fica um pouco mais quebrado. Então, além de tudo isso, existe uma falta de disposição no ar que impede as pessoas de APENAS tentarem. Mais ou menos assim: você ta na merda, só conhecer gente merda. Aí conhece alguém que ta na merda também e desiste de ficar com essa pessoa, porque tem receio de ser a pessoa merda da vida dela.

Complexo, né? Pois é.

Então por que não facilitar as coisas? É o que sempre me pergunto. Mas já descobri que “facilitar” é um daqueles termos que estão na lista negra do que você NÃO pode fazer caso queira ficar com alguém mais de duas vezes, junto com:

1. Demonstrar interesse;
2. Ser sincero;
3. Fazer um convite;
4. Interagir quando tiver vontade;
5. Falar sobre as expectativas de ambos.

Então é isso amigos. Conhecer pessoas se tornou o maior desafio da vida de todas as pessoas que conheço. Não só nas formas de abordagem iniciais, já que às vezes tenho a impressão de que não fazemos mais isso de um jeito natural. Sabe aquela frase “Oi, como é seu nome?
Posso te conhecer?” acho que a última vez que ouvi isso em um rolê qualquer, ainda estávamos lançando Velozes e Furiosos 1. Mas também no sentido de conhecer alguém de verdade.

Não damos tempo de isso acontecer. Queremos sempre mais e queremos logo. Colecionamos matchs do Tinder como uma coletânea de contatos que serão úteis sabe lá quando, talvez depois do apocalipse zumbi, para repovoar a terra. Transformamos pessoas em meros contatinhos (odeio esse termo, apenas parem de usá-lo, por favor, nunca pedi nada).

Desistimos de nos interessar por quem se interessa por nós. E não só pelo medo de ser feliz, pela autossabotagem ou por outros motivos que nos impedem de seguir em frente, mas pela eterna insaciabilidade de quem muito quer – e quando se da conta não tem é ninguém, mesmo tendo gente pra caralho no pé.

Analisemos nosso comportamento um pouco. Paremos para pensar que aquilo que reclamamos que fazem com a gente, fazemos com os outros, e consequentemente vamos nos transformando na geração mais solitária e sem empatia que já existiu.

E se antes eu já disse por aqui, que se organizar direitinho todo mundo transa, agora digo que se organizar direitinho, todo mundo passa a criar laços incríveis ao invés de criar contatinhos.

Agora durmam aí com esse textão. E de preferência, durmam de conchinha.

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