Depois que eu comecei a namorar, também comecei a postar fotos minhas e do boy nas redes sociais. Com certa moderação, é claro, já que eu não sou lá muito fã de expor tanto assim a minha vida pessoal e dar abertura para comentários inadequados. Dentre as postagens, alguns comentários me furtaram a atenção de uma maneira curiosa. Muita gente dizia que éramos os “relationship goals” (objetivos de relacionamento), que “queriam ter um relacionamento assim” e coisas do tipo.
Isso me faz pensar na maneira como fantasiamos o amor alheio, principalmente aqueles amores bonitos de Instagram que têm filtro, lençóis brancos e pessoas bonitas ou que admiramos. Se num lado mora a admiração pelo trabalho de alguém e isso nos leva a englobar o relacionamento da pessoa como algo admirável, por outro também nos ilude com a armadilha de projetarmos os relacionamentos que queremos ter sobre a vida de gente que só conhecemos pela internet. Não é sobre mim ou sobre o meu namoro, mas sobre o apelo geral que esses casais causam. Quem nunca viu qualquer interação entre o Drake e a Rihanna e não ficou shippando horrores os dois, interpretando palavras e ações entre eles com um teor exacerbadamente romântico e coisas do tipo? O que falar de Selena e Justin nas fotos da bicicleta que fizeram os fãs fantasiarem mil e uma histórias de amor e bradarem por aí que querem amores iguais àquelas fotos.
Acho isso um pouco perigoso. Essa coisa da gente querer um amor fotografado, editado, postado voluntariamente para criar uma cena. Não que essas cenas sejam falsas, mas elas só mostram um recorte da coisa toda. Uma manhã bonita no parque, uma passeio na nave, dois corpos malhados e bronzeados numa lancha, um abraço com sorvete e Netflix. Isso não é exatamente o bastante para que queiramos ter um amorzinho como esse. Essas legendas apaixonadas e cheias de corações nem sempre simbolizam uma relação forte, cheia de amor, coisa e tal. Muitos casais que conheço são o completo oposto: muito amorosos nas declarações públicas e com um relacionamento tóxico e cheio de problemas na vida real.
Nossos amores não precisam ter esse teor novelístico. Tem muita coisa linda que você vive no seu relacionamento (ou vai viver) que não passa perto de uma fotografia bonita. Vai ter muito pão com requeijão num café da manhã apressado pra não perder aula ou a hora do trabalho. Vai ter muita viagem de 12h de ônibus pra ver quem mora em outra cidade. Vai ter muita escolha de ver filme em casa porque a grana tá curta pra pagar um filme de 40 reais pra duas pessoas. E nada disso aparece nas fotos bacanas do Instagram. Tem muito amor – a maioria deles – que é bonito, que inspira, que não tem facetune e são completamente offlines. Muitos nem são contados por aí, moram em silêncio entre duas pessoas que se amam tanto que a legenda e a declaração apaixonadas existe no olhar dos dois. E é esse tipo de amor que eu quero manter, não aquele que é visto, que ganha curtidas, que possui comentários invejando o tipo de relação. É o amor que acontece quando o celular está desligado e ainda assim é carinhoso, afetuoso, cheio de coisas bonitas que a gente deveria querer ter.