Noutro típico dia de calor-e-frio na cidade de São Paulo, minha terapeuta resolveu me perguntar qual era o meu ideal de felicidade. Você consegue imaginar como uma pessoa que recebe esse tipo de pergunta enquanto está tendo uma crise de rinite responde? Nem eu. Mas saí do consultório matutando se a dor de cabeça seria fruto da mudança infernal de clima ou consequência direta da pergunta bombástica que me foi feita. O que é felicidade?
Respiro fundo. Penso em tudo que já considerei resposta. Antigamente, na época do colégio, felicidade era conseguir algum envolvimento afetivo que me respondesse rápido no MSN e notas suficientemente boas para que meus pais me deixassem sair no fim de semana com meus amigos. Na época da faculdade, felicidade era não ter que ler dois livros inteiros para um único fichamento e conseguir um estágio que pagasse as contas das blusinhas e bares no fim do mês. Depois disso, fiquei um pouco perdido com o diploma na mão.
Achei que felicidade era ter um bom emprego que me desse grana o suficiente para pagar o cartão de crédito e dizer pros meus amigos que eu estava avançando na vida profissional. Depois eu quis mais, quis um cargo alto que me desse o reconhecimento que eu merecia. E mais dinheiro, é claro. Mas dinheiro e reconhecimento pra quê? Por quem? Por qual razão?
Foi por aí que a pergunta da terapeuta me pegou. No fim do dia, um elogio do meu chefe não mudava em nada a minha vida. Eu continuava no esquema casa-trabalho de segunda à sexta sem entender quem eu era. Eu não sabia que tipo de filme eu gostava, quais línguas eu ainda queria aprender, quais eram os talentos que nunca desenvolvi, quais amigos precisavam da minha ajuda ou de um ombro pra chorar, que países eu ainda sonhava em conhecer. Eu não sabia nada sobre mim.
O pior é que eu conheço muita gente assim. Disseram pra gente que ser feliz era comprar uma casa, um carro, viajar uma vez por ano nas férias de 30 dias e ter filhos. Também disseram que ter dinheiro pra mobiliar seu apartamento e jantar em lugares caros era o supra-sumo da felicidade. Então por que eu não me sinto feliz ainda? Porque talvez eu nunca tenha aprendido qual é o meu ideal de felicidade. Sabe, eu sempre achei que ser feliz envolvia movimento. Pular de conquista em conquista. Aproveitar esses espasmos de alegria e realização que envolvem atingir algum objetivo. E não duvido disso. Mas acho que acabamos nos perdendo em modelos engessados e engravatados que sucateiam a nossa vida. Nós somos muito mais que o nosso trabalho. Nós somos pessoas que gostam de arte, de brincar com o cachorro, de ir pra cachoeira e desligar o celular por três dias, de comer um PF numa padoca de esquina. De cozinhar yakissoba e errar a receita, de tentar montar um drink sem todos os ingredientes, de passar a noite abraçado com nossos melhores amigos num karaokê de quinta categoria. Nós somos todas as coisas que nos fazem felizes. Muito mais que dinheiro ou ideiais pré-concebidos. O problema é o nosso apego ao “ter”, ao “ser”, à necessidade de criar uma persona que acredita que feliz mesmo é o vizinho e sua grama verde. Te digo com todas as letras: teu vizinho pode ser feliz com a grama dele e você também pode ser feliz com a sua, seja ela amarela, verde ou azul. O que importa no fim do dia mesmo é como você se sente dentro da sua própria busca por felicidade. Felicidade essa que pode caber num avião ao redor do mundo ou num potinho de tempero pro teu jantar de hoje.
Você já parou pra pensar no que te importa no fim do dia? Fica a dica. 🙂