É engraçado – ou seria cômico se não fosse trágico – quando você não sabe direito como se lembrar da outra pessoa. É como se a memória sobre ela não fosse boa nem ruim, doce nem salgada. Como se o que arde até machucar, às vezes fosse só picante. Entende o que quero dizer? Não é que você tenha sido agridoce, é que em algumas ocasiões penso que foi doce demais, já em outras salgado demais pro meu paladar. Que vai transitar eternamente em uma linha nada tênue que vai do “eu te amaria, se você deixasse” até o “te odeio mesmo sem você deixar”.
Por isso, falar disso é estranho também. Tanto quanto toda a forma dessa relação sem forma, fadada ao sucesso e ao mesmo tempo destinada ao fracasso. Isso deve ter alguma explicação cármica ou sei lá o que, já que racionalmente me faltam explicações. Logo eu que sempre coloquei etiquetas nos meus sentimentos, que sempre soube quem era amor, quem era paixão, quem era euforia e passaria em duas semanas, nem com muita fita adesiva e bastante reza brava conseguiria rotular o que sinto nesse momento.
A princípio, pensei em não dizer nada e guardar todas as minhas dúvidas junto com os textos que te escrevi e nunca mandei, por ter começado cada um deles achando que você merecia ouvir algumas verdades e terminado com a certeza de que não era merecedor de nenhuma palavra que viesse de mim. De nenhuma fração do meu tempo, muitas vezes mal gasto com coisas inúteis.
Triste achar que alguém não vale nem seu tempo. Mais triste ainda ver a esperança de repousar seu amor, resumida a uma história que acabou sem ter fim e a uma playlist de músicas lindamente dolorosas.
Depois tive vontade de te agradecer. Achei que deveria dizer que você foi o responsável por me mostrar que sou capaz de tentar quantas vezes forem possíveis. Que coração de taurino é teimoso para um caralho ou que sou burra mesmo, as duas únicas explicações plausíveis para alguém que insiste tanto em encontrar um relacionamento genuinamente feliz. Em seguida, pensei que te devia um obrigada pelo que aprendi com você, em te contar um pouco como me sinto, mesmo que nem eu saiba como é esse como. Mas no final, em um diálogo interior esquisito, que reconhece que a gente não daria nada certo, mas gostaria muito de arriscar, concluo que eu não deveria nada, porque não te devo nada. Paguei tudo bem pago, com reciprocidade e sinceridade, os juros das relações humanas que não tem preço, mas carregam em si um valor inestimável.
É engraçado também esse lance do significado das palavras. Quando a gente para e presta atenção no que fala, entende como se expressar por meio delas tem um imenso poder e a possibilidade de má interpretação. Estou falando isso pelo meu “deveria” aqui em cima e por todas às vezes que, por descuido ou covardia, você disse algo que remetesse a um futuro que jamais teve a intenção de construir.
Ainda sobre as palavras e sua capacidade de estragar vidas, pessoas e corações, sei que nada do que do que estou falando aqui é preciso no sentido de exatidão, nem de necessidade. Bem como não preciso de você no sentido de necessidade (ou exatidão). Mas te queria. De verdade. E te queria incerto mesmo. Quer coisa mais bonita do que alguém ficar com você por vontade e não por carência?
Aparentemente você quer sim. Vai saber. Como eu disse, se não sei nem o que sinto, pressupor qualquer coisa em relação ao que você sente, seria algo entre pretensão e insanidade.
O que importa é que nada disso importa mais. E ainda que a gente se esbarre, ainda que se encontre de novo em uma nova oportunidade, não podemos garantir que seria diferente. Ou que só seria e assim, não mais seríamos sós.
Afinal, pode ser que a falta de sentido nisso tudo signifique que tudo isso não faça mesmo sentido algum. E voltando àquela coisa das palavras: se não faz sentido é porque não foi sentido. Não é?