Discussão


(Ao som de “Chasing Pavements” bem baixinho)

– O que foi?

– Nada. Me deixa olhar pra fora.

– Mas você tá olhando pra mim, não lá pra fora…

– Aí é que mora o problema: eu só consigo enxergar uma janela vazia que me mostra o lado de fora. Não enxergo dentro de você, não te vejo mais!

– (…)

– Não fica calado, assim eu me sinto pior. Diz alguma coisa, diz que me odeia, diz que não me entende, que eu sou louca desvairada, que isso é ciúmes e que eu não tenho razão.

– Pra que eu vou negar algo que você parece saber tão bem? Do que vai adiantar eu desmentir o mundo inteiro se você não acredita em mim? Vai, admite que você parou de acreditar nisso aqui faz tempo…

– Viu?! Olha como você é! Olha o que você está fazendo! Virando o jogo contra mim, me dizendo que a culpa é minha, sem nem se defender das minhas acusações!

– E olha como você vê as coisas. Você me vê como um peão de xadrez que tem que ser movido na hora certa. Meu rei tá aqui para servir à tua rainha e não para ser derrubado pela tua legião de motivos irracionais. Você é muito passional, meu bem. Mas se isso aqui é um jogo pra ti, eu jogo meus peões pro lado, desço da minha torre, desamarro a sela do meu cavalo, me despeço do bispo e deixo o meu rei à tua mercê.

– Por que você tem que ser assim? Deixa de ser irônico, deixa de usar essas tuas metáforas piegas! Acorda pra realidade, vem viver no meu mundo! Essa tua mania de fantasiar as coisas é que está destruindo tudo. Destruindo a gente, destruindo a minha visão de você, te deixando vazio por não estar mais aqui de verdade…

– Meu bem, eu sempre estive aqui. E, se bem me lembro, foram as minhas metáforas e meu jeito de ver a vida que te convenceu a ficar. Eu me lembro de você como uma menina fria e insensível, incapaz de deixar que achassem o caminho que levava até você. Você gostava de brincar e jogar sempre que possível. E eu não vou negar nada. Você está a poucos passos de me dizer o que você quer dizer de verdade.

– Pára de tentar me prever! Pára de achar que eu sou a mulher mais previsível do mundo pra você! Eu queria saber quando foi que a sua segurança te tornou arrogante. Você acha que eu vou sempre estar aqui, que eu não vou fugir de você, que eu sofro mais porque a balança está desfavorável… Aliás, eu sempre soube que amor é assim: sempre tem aquele que ama mais e o que carrega o fardo nas costas…

– E quem me dera eu fosse essa pessoa. Eu carrego o fardo nas costas. Mas você se engana quando acha que o fardo é você. O fardo é acordar todos os dias com a sensação de que eu posso te perder a qualquer segundo. O fardo é pensar que talvez você tenha se cansado dessa vida ao meu lado e tenha decidido voltar a jogar teus jogos de tabuleiro com outro cara, mais legal e mais charmoso do que eu. O fardo é que você não acredita mais na gente. E eu não posso acreditar sozinho, meu amor. Não mais. Se você realmente não me vê, não me enxerga, não me quer assim… É melhor que paremos por aqui.

– Você não entende! Eu te quero, eu te vejo, eu te enxergo! Mas de uma forma diferente da que eu sempre vi. Eu te vejo como a minha redenção, eu te enxergo com os olhos de criança de quem adora, eu te entendo como se você pensasse a mesma coisa que eu. Eu te quero mais que tudo nessa vida. Mas eu tenho medo dessa mudança, eu tenho medo de deixar as minhas barreiras pra trás e exigir de você a força que eu preciso para entender que amar é um salto no escuro, que eu não vou mais ser o que era antes e que amanhã eu já serei outra pessoa: tua pra sempre e ao mesmo tempo minha para deixar de ser.

– E era eu quem usava de expressões difíceis e metáforas para me expressar…

– Deixa disso! Se põe no meu lugar. O que você faria se sentisse que me perde a cada segundo? O que você faria se tudo o que você acredita se mostra frágil diante de uma coisa muito maior que é o amor? O que você faria? O problema é que eu nunca vou ter a certeza que eu preciso para me sentir segura. Pode demorar a eternidade pra eu sentir que você sente a mesma coisa por mim, pode levar séculos até que você me diga ou que eu consiga ouvir de você…

– (…)

– (…)

– Eu te amo.

– (Suspiro de surpresa. Lágrimas de certeza. Sorriso de amor.)

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