Todo dia, eu perco uns bons minutos de vida zapeando o Instagram. As contas que eu sigo são das mais diversas possíveis: modelos da Victoria’s Secret, músicos de banda internacionais, gente que eu conheço da vida, gente que eu conheço da balada, fotógrafos incríveis de nudez, fotógrafos incríveis de viagem, blogueiros incríveis de coisa nenhuma que postam fotos ostentando uma vida que eu nunca tive e por aí vai. Sempre que fecho o Instagram, bate um sentimento estranho. Não é inveja, mas aquela coisa de pensar em como a minha vida é tão distante daquilo que eu vejo.
Noutro dia desses, surgiu uma pesquisa sobre como o Instagram é a rede social que mais afeta a autoestima das pessoas. Não me parece muito difícil de entender isso. Antigamente, a gente acompanhava a vida das celebridades pelas capas de revista e pela TV, bem conscientes da vida divertida e badalada que elas tinham entre compromissos e aeroportos para as férias em família. A ideia de padrão de beleza existia, mas não era tão próxima assim da gente. De repente, ali mesmo no Instagram, nós descobrimos pessoas comuns com vida de cinema. O vizinho que tá sempre numa praia paradisíaca, a amiga do curso que é linda-maravilhosa-com-um-namorado-perfeito-e-os-dentes-mais-brancos-que-sei-lá-o-que, o primo da fulana que tá sempre meditando num país diferente e por aí vai. Tirando a galera good-vibes-feliz-com-pouco ou o povo-intelectual-das-mil-leituras-numa-biblioteca-em-Bangladesh que você nunca vai saber como é ser.
O problema aqui não é o sentimento de inveja, mas a coisa que nós não vemos: a vida dessa galera não é perfeita. Em fotos cheias de filtros, photoshopadas e tiradas do contexto, muitas pessoas “comuns” exibem vidas que não existem. Se antes a comparação era com seres inatingíveis como celebridades – o que causava uma ligeira sensação de conforto por elas estarem bem distantes de nós -, agora a comparação é com alguém real. As redes sociais trouxeram esse modelo de perfeição para um nível “atingível”, o que causa ainda mais ansiedade e agrava os sintomas de depressão e autoestima que são influenciados pela comparação. Sabe aquela história de que nas redes sociais todo mundo é feliz e sorri 24h por dia? É balela, gente. Todo mundo acorda descabelado, com bafo e cara inchada.
Os filtros e fotos alteradas podem tentar gritar e dizer “olha, você nunca vai ser bonito desse jeito”. O facetune pode te dizer que seus dentes não vão ser tão brancos, sua pele não vai ser tão limpa e a água de qualquer mar que você entrar não vai ser tão saturada assim (risos), mas nada disso é verdade. Por trás de cada fotografia ou vídeo feito por um drone, existe uma história que a gente não conhece. Existe uma pessoa que talvez se sinta infeliz ou inferior a outra pessoa da rede que tenha “fotos melhores” e, consequentemente, “uma vida melhor”. E é por isso que eu passei a testar um método diferente de navegar no Instagram -e em outras redes.
Em vez de ficar comparando a minha vida com a daquelas pessoas incríveis, eu comecei a olhar pras histórias que as minhas fotos e vídeos contavam. Elas eram reais? Eu realmente tava feliz ali ou só queria uma foto bacaninha pra postar? Parei de usar alterações de forma, facetune na cara, tentar mudar a minha imagem para passar um negócio que eu não sou. E comecei a olhar pro que fazia sentido mostrar sem ter que alterar completamente a pessoa que eu sou pra parecer mais legal – ou pior, pra ficar mais parecido com alguém. Parar de mentir e contar a minha verdade é uma forma de berrar contra as redes sociais dizendo que eu nunca vou ser feliz do jeito que as outras pessoas são. Uma ova! Vou sim, independente dos likes ou dos raios de sol das minhas fotos. Vou sim e vou muito!