Dia desses eu surtei no meio da tarde. Fiquei deitado no meu quarto em posição fetal com a cabeça acelerando e repassando tudo o que eu tinha que fazer naquele dia. Parecia que quanto mais coisas apareciam, menos coisas eu conseguia fazer. Expandi a tal lista mental pras pessoas que eu precisava ver. Quem eu tinha deixado de encontrar nos últimos tempos. Quem eu tinha que encontrar imediatamente. Quem eu deixei de responder, prometi que iria marcar algo, desmarquei em cima da hora e não dei retorno. Pensei nas coisas de casa. Faltava a louça, limpar sapatos, lavar o banheiro, tirar o lixo e ainda cozinhar algo pra refeição das 20h. E só ia aumentando minha lista.
Quem foi que inventou essa história de que a gente vai conseguir dar conta de tudo na vida adulta? Porque essa pessoa é culpada por uma série de problemas que a nossa geração desenvolveu. Somos todos seres humanos tentando descobrir nossos poderes diariamente.
Alguém mentiu dizendo que dava. Que você conseguiria ter uma vida saudável, cozinhar todos os dias, entregar seus trabalhos a tempo de sair na hora, andar de bicicleta vendo o pôr-do-sol, encontrar seus amigos duas vezes por semana para tomar uns drinks, coisa e tal. Alguém mentiu pra gente falando que o tempo é moldável, que dá pra ser pleno na vida adulta.
Sinto te decepcionar, mas eu vou ser a pessoa que diz: não dá, gente. É mentira. Quando você cresce, você precisa escolher entre ter uma vida social ativa, uma vida profissional bem sucedida e uma vida amorosa frutífera, além de cuidar de você mesmo com sucesso. Mas não dá tempo de fazer tudo. Parece que o mundo tá sempre incluindo uma tarefa, um compromisso, uma necessidade que é urgente no meio do nosso dia. E é aí que entra a frustração. Poxa, não dá pra ser feliz assim?
Até dá. Mas se você for cabeça dura igual a mim, vai demorar a perceber que a nossa felicidade tá ligada diretamente à forma como escolhemos usar nosso tempo. Feliz ou infelizmente, não dá pra pedir pro gênio da lâmpada um dia de 48h, então talvez seja o momento de assumir pra você mesmo: “ok, eu não consigo fazer tudo, mas o que eu realmente preciso fazer? O que realmente vai me ajudar a construir uma vida melhor? O que vai me fazer feliz?”.
No meio dessa bagunça toda, admitir nossas fraquezas humanas é um alívio. É como se você deixasse de se cobrar tanto para dar tudo de si e focasse em dar o seu melhor. Em escolher um dia na semana pra ver seus amigos e recusar o segundo convite pra cuidar da casa. Em chegar um pouco mais cedo no trabalho num dia, perder a academia, mas conseguir sair na hora de pegar a bike e assistir ao pôr-do-sol. Entender assim que o tempo é uma questão de escolha e que, como toda escolha, às vezes, ela também pode fugir ao seu controle. Porque nem tudo depende sempre de você. Mas o que depende, bem, tá aí pra te fazer mais feliz e não mais frustrado por não conseguir chegar num ideal muito errado de felicidade que nem o Flash conseguiria chegar.
