Ultimamente tem muita gente falando sobre responsabilidade afetiva com o outro. Acho ótimo que tenham começado a entender o que a raposa do Pequeno Príncipe disse lá na década de quarenta. Essa compreensão do “tu te torna eternamente responsável por aquilo que cativa” demorou quase tanto quanto o amor da minha vida pra chegar, mas felizmente veio antes.
Mas, e sobre sermos responsáveis pelos nossos próprios afetos? Por que não nos falam isso? Aliás, por que não nos ensinam isso na escola, no lugar de cálculo da circunferência, que a gente nunca vai usar pra nada na vida (aliás, se você usa, deixe seu depoimento aqui, por gentileza)?
Porque as pessoas quase nunca entendem uma ligação muito simples: dificilmente vou causar dor no outro, se não tiver dor dentro de mim.
Já viu gente feliz ser cuzona? Gente feliz não causa, não. Passa o dia com aquele sorriso irritante de figurante de novela do Manoel Carlos na cara, cantarolando Cartola como se fosse música da Xuxa, porque até a voz fica alegre, passa energia boa. Resumindo: gente feliz não fode o rolê.
Agora, quando a pessoa além de ser infeliz, não entende o que está sentindo e pelo que está passando, sai da frente. Vai ter gente confusa te enfiando em confusão, tentando alimentar o ego às suas custas por pura falta de autoestima transvestida de excesso de confiança, testando sua paciência com jogos sem nenhum objetivo a não ser o de testar sua paciência mesmo, enfim. Só piora.
É aquela coisa: se eu não sou capaz de me amar, logo eu que ando comigo 24h por dia, durmo comigo e acordo comigo, como serei capaz de amar alguém? Se eu não sou capaz de me entender, logo eu que tenho acesso irrestrito aos meus próprios pensamentos e ouço tudo o que falo, como serei capaz de entender outra pessoa? E se eu que enfrento todas as consequências do que faço dia após dia, não souber o que estou fazendo direito ou conhecer as motivações que me levam a agir de determinada forma, como vou medir os impactos daquilo que eu faço no outro?
Fora isso, tem o fato de que enquanto a gente não aprende que é responsável pelo que sente, deixa o outro nos causar certas dores e nos tratar de uma maneira que não merecemos ser tratados.
Gente, vamos lá! Sabe por que existe contatinho hoje em dia? Porque tem quem se deixa ser isso. Agora, você acha que quem acorda pleno, sabendo que merece muito mais da vida, vai virar contatinho de alguém algum dia? Mas nem que Beyoncé embarangue, monamu.
Ah, claro! Então agora você está dizendo que eu tenho culpa pelo que fazem comigo?
Sim, querido. A fábrica de papel de trouxa é única e exclusivamente sua, quem te faz sofrer no máximo escreve neles. E porque você deixa.
Porque enquanto não souber o quanto vale a pena se esforçar por algo e enxergar claramente até que ponto pode deixar o outro ir sem te machucar, vai continuar mantendo na sua vida quem te faz mal, quem te quer mal e quem não está é nem aí pra você. E olha que contraditório assumir que a gente deixa quem não está nem aí pra gente fazer parte da nossa vida.
Sabe aquela frase que diz que, a gente aceita o amor que acha que merece receber? É isso, sem tirar nem por.
É claro que esse processo de reconhecimento e responsabilidade sob os próprios sentimentos envolve muito tempo, dor e sofrimento. Mas quer uma dica da vó aqui, que não é Palmirinha, mas vai te passar uma receita imperdível nesse momento? Toda vez que se ver sofrendo ou fazendo alguém sofrer, aplique a regra dos três P’s: Pergunte-se, perdoe-se e permita-se.
Pergunte a si mesmo porque está agindo como está. Mas é pra perguntar de verdade e ser sincero na resposta, não vale fazer o desentendido consigo mesmo. Quanto mais coragem você tiver de fazer isso, mais vai se autoconhecer.
Perdoe-se se essas respostas não te agradarem. É normal fazermos algumas coisas por razões ou emoções pouco nobres. Reconhecer isso e não se culpar é o primeiro passo para se tornar alguém melhor, inclusive para si mesmo.
Permita-se seguir em frente, sem achar que desistir de algo ou de alguém em determinadas situações é o mesmo que ser derrotado. Permita-se sair de situações em que você não deveria estar e a excluir da sua vida quem não merece ficar nela e, acima de tudo, acredite que você merece e permita-se ser feliz.
Afinal, é como eu acabei de dizer: gente feliz não fode o rolê.
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