Dói menos quando a gente decide ir embora?


– Antes de ir… me responde uma coisa?
– Fala…
– Dói menos quando a gente decide ir embora?

Eu pude sentir as lágrimas se formando… Tentei manter o olho aberto pra ver se a brisa as secava antes de caírem. Não caíram. Mas meus olhos ficaram com aquela cor de mar, certeza. E você sabe que eles só ficam assim quando estão mareados.

– Não sei… nunca decidi ir.
– Mas está indo… e eu quero que você fique. Então a decisão é sua.
– Não é tão simples.
– Então fica.
– Não.

De repente senti o chão se abrir. Queria ajoelhar. Implorar. Chorar. Queria repetir tudo que fiz ontem à noite.

– Dói menos quando você não quer ficar?
– Para de perguntar isso.
– Por quê? Eu quero saber.
– Pra quê? Que diferença faz?
– Se doer menos… na próxima vez… eu saio antes. Eu fujo.
– Não…
– Não o quê?
– Não dói menos.

Sentei. Escondi o rosto e chorei baixinho. Não queria que você me visse chorar. Não gosto desse papel. Me senti fraca. Covarde. Com medo da vida sem você. Com medo de você. Com medo da vida. Mas você viu… não dava pra esconder.

– Não chora.
– Eu gosto de chorar. Você sabe.
– Sei. Mas não gosto de ver você chorar.
– Problema seu.

Eu ri. Você riu. Aquele sorriso enorme que sempre me fez tão bem estava agora fantasiado de uma risadinha tímida e triste. De repente você me pareceu menor.

– Chorar me faz lembrar que eu estou viva.
– Eu queria poder chorar.
– Então chora.
– Choro quando estiver longe.

Que situação absurda essa de assistir o grande amor da sua vida ir embora. Eu não devia ter ficado em casa. Devia ter saído pra correr no parque ou convidado alguma amiga pra tomar café. Mas acho que se chegasse em casa e simplesmente você não estivesse mais, criaria mil fantasias na minha cabeça de que não foi de verdade. Que você voltaria logo.

– Preciso te ver sair.
– Por quê?
– Pra acreditar que você foi.
– E se eu quiser voltar?
– Não vai me achar mais aqui.
– Como assim?
– Eu vou ser outra pessoa. Vou me reinventar sem você. Talvez volte um pouco a ser a menina que você conheceu. Talvez me torne a mulher que sempre quis ser.
– E não vai ter mais amor?
– Vai. Muito. Por mim mesma. Por outra pessoa, talvez.
– E eu?
– Você vai ser sempre meu. Guardarei você.
– Então posso voltar? Se eu sentir saudades?
– Não.

Fechei a porta. Não dói menos. Eu sei que não. Desistir de um amor deve doer mais do que vê-lo partir. Mudei de ideia. Não farei diferente da próxima vez. Prefiro amar até não ter mais amor. Prefiro ser pra sempre.

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